Filme do Dia: Batguano (2014), Tavinho Teixeira

 


Batguano (Brasil, 2014). Direção e Rot. Original Tavinho Teixeira. Fotografia Marcelo Lordello. Montagem Arthur Lins. Dir. de arte Giga Brow. Com Everaldo Pontes, Tavinho Teixeira, Cícero Ferreira, Nildo, Ian Abé, Gian Orsini, Arthur Lins, Breno César.

Em um futuro distópico, no qual uma peste provocada pelas fezes de morcego provoca uma grande mortandade, Batman (Pontes) e Robin (Teixeira), já em idade madura e aposentados, passam o tempo ocioso de suas vidas assistindo TV, arengando um com o outro e buscando aventuras sexuais por locais recônditos da cidade. A situação financeira de ambos, inversamente proporcional à fama é driblada através da assinatura de fotos de Batman no passado para os fãs e com a eventual notícia de que o braço do homem-morcego será leiloado pela Sotheby’s londrina.

Quando se pensa igualmente em outros filmes da cena queer brasileira de identidade estilística semelhante em anos relativamente próximos (Doce Amianto, Inferninho), há pontos em comum e distanciamentos. A diferença maior talvez seja um humor mais presente, embora nunca escancarado e também a aparente ausência de um projeto dramático mais sólido, talvez por se tornar demasiado derivado de sua original situação, que seria como um retrato um tanto insólito do dia-a-dia da dupla de super-heróis. Os pontos em comum passam por um uso não menos inventivo da cenografia, de uma certa proximidade com o teatro e seu decadentismo, mais atuante aqui nos cenários e objetos de cena, mas com pouco uso da música – apesar da cena da canção clássica francesa, na melhor cena do filme, que faz um uso maravilhoso da back projection, explicitando-a ao início; aliás recurso que também é utilizado, de forma que transcende o efeito ilusório algo dramaticamente distinta em Inferninho, mas  com pontos de contato; aqui a ilusão propiciada pelo universo cinematográfico, sobretudo clássico (que foi quando o efeito se mostrou mais ativamente presente), também consumido pela dupla de espectadores um dia célebres, torna-se o momento de maior devaneio e fuga da realidade opressora trazida pelo envelhecimento. Também como os outros dois filmes, e nesse vínculo com o teatro, o filme praticamente não possui cenas externas. Interessa-lhe o universo criado  internamente em estúdio como força expressiva, ao contrário por exemplo de filmes como Estrada para Ythaca que, mesmo fazendo uso somente de locações, não consegue sair do ensimesmamento de seu quarteto. Há um diálogo forte com as imagens audiovisuais que a dupla assiste, e que não deixam de fazer menção ao recorte matriz, que é a série Batman & Robin, dos anos 60, que se transformou, com o passar do tempo em ícone cult e mesmo queer. Mas também há um interesse não tão facilmente identificado por O Homem Elefante, de Lynch. E outros que são ícones queer como a canção Encantado, versão de Nature Boy, canção clássica imortalizada na voz de Nat King Cole, na versão de Ney Matogrosso, e dublada por Robin a determinado momento. E as duas últimas cenas são bem interessantes, a penúltima talvez ainda mais, trazendo o contraste entre o riso histérico de Robin ao saber que a famosa casa de leilões londrina dobrou o valor da oferta milionária e a reação um tanto afobada do macaquinho que vive em uma jaula, um dos diversos animais criados pelo casal – e se poderiam funcionar como arremedos em caricatura da ausência de filhos, um filho emerge na última e seguinte cena. 75 minutos.

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