Filme do Dia: Olmo e a Gaivota (2015), Petra Costa & Lea Glob

 


Olmo e a Gaivota (Brasil/Dinamarca/França/Portugal/Suécia, 2015). Direção e Rot. Original Petra Costa & Lea Glob. Fotografia Muhammad Hamdy. Montagem Tina Baz & Marina Meliande.

Costa  e Glob tiram partido de ter como personagem principal de seu documentário uma atriz. O que serve bem a seus propósitos de passear entre o registro mais tipicamente próximo do que se convencionou chamar de documentário e outros nos quais há uma visível elaboração fabular em cima da situação vivida pelo par central.  Olívia tem seu sonho, alentado de muito, de participar da encenação da peça A Gaivota,  de Ibsen, naufragar quando se descobre grávida e, ainda mais, numa gravidez de risco, a demandar muito pouco esforço e movimento por parte dela. E Serge, seu companheiro, havia sido originalmente elencado para contracenar com ela, também como casal, sendo o diretor da montagem. Como observamos poucas interações sonoras da realizadora, ficamos a par que a situação de tensão entre o casal, com Serge chegando em casa à noite demasiado cansado para entabular uma conversação ou proximidade maior com Olivia, é criada por Costa, numa linha que o documentarismo de Eduardo Coutinho, a partir de estratégias distintas, já havia trilhado (embora a referência maior seja Jogo de Cena, no caso em questão Moscou é mais próximo). E aí nos indagamos se o momento no qual a revelação da gravidez de Olívia para o grupo, ocorrendo coincidentemente no mesmo dia que ficam a saber de convites para se apresentarem em Montreal e Nova York, também não seria encenada. E outras mais. Como a do exame para saber de sua gravidez, em que observamos Olivia fazer no banheiro ao lado do aposento no qual o marido lhe incita a cantar Mi Sono Inammorato de Te, de Luigi Tenco. E os primeiros créditos finais falarem em em algo realizado em colaboração com o casal vão nessa linha. Não temos maiores informações prévias sobre o casal, até mesmo sua nacionalidade, embora Serge seja provavelmente francês,  vivendo em uma babel de línguas latinas. Além de atriz, Olivia fala a determinado momento estar sempre representando, criando várias camadas interpretativas, aos quais além do papel social desempenhado por todos nós na vida social ordinária, somar-se-ia a predisposição individual dela ao jogo interpretativo, o fato de estar sendo filmada e, em estágio máximo, sua atuação em ensaio no teatro ou diante da câmera de Costa e Glob. E se os atores são seres intrinsicamente vinculados ou predispostos ao narcisismo, Costa se retrai do seu próprio – marca forte em outros filmes seus – e embarca no de Olivia, conseguindo bons frutos. É o caso, igualmente, do momento no qual Olivia toca no desejo de não falar sobre infidelidade para não magoar o companheiro, e Petra lhe afirma nunca ter tocado no assunto. A dificuldade de como terminar o filme, antecipada por sua própria feição, concretiza-se. Finda com uma participação dos amigos de Olivia numa festa em tom meio de chá de bebê. E já nos créditos finais, umas breves imagens do recém-nascido sendo banhado, amamentado e fotografado. |Zentropa Prod./Busca Vida Filmes/O Som e a Fúria/Zentropa Int. Sweden/Film i Väst/Epicentre Films. 82 minutos.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Filme do Dia: Der Traum des Bildhauers (1907), Johann Schwarzer

Filme do Dia: Quem é a Bruxa? (1949), Friz Freleng

A Thousand Days for Mokhtar