Filme do Dia: Caminhos Mal Traçados (1969), Francis Ford Coppola

 


Caminhos Mal Traçados (The Rain People, EUA, 1969). Direção e Rot. Original: Francis Ford Coppola. Fotografia: Bill Butler. Música: Ronald Stein. Montagem: Barry Malkin. Dir. de arte: Leon Ericksen. Com: Shirley Knight, James Caan, Robert Duvall, Marya Zimmet, Tom Aldredge, Laura Crews, Andrew Duncan, Margaret Fairchild.

Tensa após se descobrir grávida, Natalie (Knight) pega a estrada, deixando o marido e a família para trás em Nova York, e conhecendo um rapaz que lhe pede carona, Jimmy (Caan), que se autodenomina como Killer, que logo descobrirá ter bem mais problemas que ela, sofrendo danos vinculados a sua antiga prática de jogador de futebol. Sem conseguir se desvencilhar de Killer ela arranja um emprego para ele no zoo amador do Sr. Alfred (Aldredge), enquanto se sente sexualmente atraída por um policial, Gordon (Duvall). Natalie pretende interromper seu encontro com Gordon, porém esse se torna crescentemente violento, como já demonstrara ser com sua filha e a situação fica ainda mais violenta quando Killer interrompe a tentativa de estupro de Gordon.

Um pouco menos de redundância faria bem a esse filme relativamente sensível de Coppola – talvez seus personagens, verdadeiros pontos fora da curva, em maior ou menor distanciamento da mesma, soariam menos exagerados sem todos os estímulos visuais e floreados sonoros que querem, a todo momento, justificar que se trata de um filme sensível; um pouco mais da aspereza de uma Barbara Loden (Wanda) ou Cassavetes (Uma Mulher Sob Influência) faria bem. Mas não é o que ocorre, e observamos o carro de Sara deslizar sem pressa, enquanto observamos a música com uma ênfase demasiado lírica no sopro e uma paisagem pastoral e bucólica de um barco em uma lagoa. Ou ainda os flashes dos traumas vivenciados por cada um dos personagens, na intensidade de sua desproporção à lucidez – recurso bastante utilizado para a personagem de Killer, mas também presente em Natalie e Gordon. Há uma referência a Bonnie & Clyde na marquise de um drive-in com a pretensão talvez de nos chamar mais a atenção para o que diverge daquele – sendo a odisseia de carro vivido pela dupla muito mais interior que envolvendo ação – que para o que se aproxima (um protagonista masculino, como naquele, jovem, belo e atraente, porém impotente).  Há uma potencia na figura de Natalie, por sua vez,  na forma que lida com o seu desejo e no não apagamento diante do elemento masculino que torna o filme interessante, e ao mesmo tempo longe de resvalar para oportunismos vinculados ao momento em questão – não há referência à cultura hippie que vivenciava seus dias áureos, por exemplo.  O filme consegue impor alguma crueza, ainda que a situação de desfecho envolvedo o assassinato da figura mais vulnerável seja uma saída classicamente convencional. Crews, aparentemente atriz não profissional, e uma versão mais jovem e um pouco menos agitada de Sandy Dennis, não apareceu em qualquer outra produção.  A provinciana parada militar do interior lembra cena do contemporâneo Sem Destino. O que vale igualmente para as filmagens algo documentais-improvisadas da mesma e, aparentemente, para a interação do Jimmy de Caan no evento. American Zoetrope/Warner Bros-Seven Arts para Warner Bros.-Seven Arts. 101 minutos.

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