Filme do Dia: A Rainha Diaba (1974), Antônio Carlos Fontoura

 


A Rainha Diaba (Brasil, 1974). Direção Antônio Carlos Fontoura. Rot. Adaptado Antônio Carlos  Fontoura, a partir do conto de Plínio Marcos. Fotografia José Medeiros. Música Guilherme Magalhães Vaz. Montagem Rafael Justo Valverde. Cenografia e Figurinos Ângelo de Aquino. Com Milton Gonçalves, Odete Lara, Stepan Nercessian, Nelson Xavier, Yara Cortes, Wilson Grey, Edgar Gurgel Aranha, Lutero Luiz.

Dos fundos de um prostíbulo popular, cuja Madame, Violeta (Cortes), é sua aliada, Diaba (Gonçalves) comanda os negócios do tráfico de drogas no Rio. Ao saber que um de seus favoritos se encontra na mira da polícia, Diaba procura desviar o foco da mesma, fazendo uso do jovem gigolô Bereco (Nercessian), como isca. Bereco é amante da prostituta e cantora decadente Iza (Lara). Porém, um dos homens da rainha Diaba, Catitu (Xavier), tem planos de passa-la para trás e se tornar o novo senhor das drogas. E os planos de Bereco não são outros. O que resultará num encontro final fatídico entre estas três forças ao final.

Incomumente vivo e chamativo no uso maravilhoso das suas cores – antecipadas já pelos marcantes créditos iniciais, ao som da tradicional guarânia Índia e na expressividade do elenco, com destaque para Yara Cortes e Milton Gonçalves, torna-se mais atrativo por estes elementos que por sua narrativa em si. Não há propriamente um desenvolvimento da personagem-título, visivelmente inspirado no lendário Madame Satã, e como bem típico da época, tampouco interesse em se traçar uma biografia deste ou torna-lo nem mesmo ambientado no Rio da época de Satã, algo que ficaria a cargo da abordagem mais convencional (e dramaticamente mais bem sucedida) de Ainouz, décadas depois. A estética do excesso para descrever a corte gay da rainha é um dos melhores achados do filme, mais pulsante e histérico em comparação ao bas fond do pouco anterior Toda Nudez Será Castigada, em que apenas Geni se destaca em meio a uma atmosfera mais realista – aqui o realismo  do cabaré de Violeta desaparece à medida que chegam os traficantes de Diaba, a se movimentarem em uma bossa antinaturalista fassbinderiana. Tendo em vista os modestos resultados alcançados por outras adaptações da obra de Marcos, provavelmente é a mais assertiva. A fonte ter sido literária e não teatral terá um efeito na fatura?  Ainda assim fica-se com a impressão de rompantes de grande brilho visual, como o de Iza, caricatura da mulher sofrida e dependente do cafetão que a explora, a cantar, com seus chamativos cabelos verdes e o brilho de seu figurino, em meio a uma articulação narrativa algo claudicante.  Cópia restaurada e digitalizada a partir de negativos originais em relativo estado de boa conservação. Canto Claro Prod. Artísticas/Filmes de Lírio/Lanterna Mágica/R.F.Farias/Ventania Filmes. 100 minutos.

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