Filme do Dia: A Chorona (2019), Jayro Bustamante
A Chorona (La Llorona,
Guatemala/França, 2019). Direção Jayro Bustamante. Rot. Original Jayro
Bustamente & Lisandro Sanchez. Fotografia Nicolás Wong. Música Pascual
Reyes. Montagem Jayro Bustamente & Gustavo Matheu. Dir. de arte Sebastián
Muñoz. Figurinos Beatriz Lantán. Com María Mercedes Coroy, Sabrina De La Hoz,
Margarita Kenéfic, Julio Diaz, María Telón, Juan Pablo Olyslager, Ayla-Elea
Hurtado.
Na
mansão do velho general Enrique (Diaz), acusado de crime de genocídio, ele e
sua família se vêem acuados, com as manifestações que circundam a mansão, após
a suprema corte do país ter revogado sua condenação em julgamento. Todos os
empregados se demitem, após Enrique atirar contra sua esposa, acreditando ser
uma aparição de uma mulher que chora. Sua mulher, Carmen (Kenéfic), mesmo após o incidente, apoia-o
incondicionalmente, o que já não é verdade sobre sua filha, Natalia (De La
Hoz). E uma jovem empregada, Alma (Coroy), é a única que decide vir a trabalhar
na mansão, cuja única serviçal que permaneceu do quadro original foi Valeriana
(Telón), que Carmen confidenciará a filha, é meio-irmã dela. Alma possui uma
forte ligação com a filha de Natalia, Sara (Hurtado), e também com a água.
Bustamante,
o cineasta de maior repercussão internacional do país, faz uso de uma lenda de
forte ressonância na cultura hispânica (e o cinema mexicano traz duas películas
homônimas, de 1933 e 1960, dirigidas por Ramon Peón e René Cardona
respectivamente) para se engajar, igualmente, em uma tendência mais recente, de
filmes que fazem uso de elementos associados à dominação colonial através do
comentário do filme de gênero (suspense, horror), como foi recorrente no cinema
latino-americano (no caso brasileiro em filmes como O Som ao Redor, Trabalhar Cansa), mas também no universo anglo-saxão (Corra!, dentre vários).
E, no plano da crônica doméstica do passado (Roma). No caso em questão, sutileza não é exatamente
a palavra para caracterizar a forma como tal apropriação se dá. E o trabalho do
elenco, longe de ruim, é orientado para uma chave única, que pode beirar a
caricatura, no caso de Carmen, a aristocrata altiva, que já possui muito bem
sua ideia formada sobre os fatos, presentes e passados. Ou do assistente mais
próximo de segurança, Letona, do qual se espera que emergirá algo mais, e por
aí vai. E, com as licenças poéticas do gênero, tampouco se pretende situar
muito o que de fato aconteceu, com várias das personagens próximas e mesmo da
própria família. E, também associado ao comentário colonial, não se poderia
deixar de fora a faceta patriarcal, e sua figura caricatamente predadora do
militar. E tudo produzido com nível
técnico provavelmente melhor que a média dos filmes brasileiros contemporâneos
a ele. A impressão que se tem é que nem o filme consegue provocar o efeito de
gênero ou tampouco nos faz ingressar no páthos da injustiça social dos
descendentes dos povos originais – uma espécie de releitura “pop" do tema
de praticamente toda a filmografia de um realizador como Jorge Sanjinés.
Geralmente tais produções, tais como a dos monstros da Universal, geraram
outros títulos-satélites à época, não sendo esta uma exceção – se a versão de
1960 teve uma sucedânea três anos após, juntam-se a esta uma norte-americana, A
Maldição da Chorona, lançada no mesmo ano, e o canadense-mexicano The
Legend of La Llorona (2022). |El Ministerio de Cultura Y Deportes de
Guatemala/La Casa de Production/Les Films du Volcan. 97
minutos.
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