Filme do Dia: O Segredo Íntimo de Lola (1969), Jacques Demy
O Segredo Íntimo de Lola (Model Shop, EUA, 1969). Direção e Rot.
Original: Jacques Demy. Fotografia: Michel Hugo. Montagem: Walter Thompson.
Dir. de arte: Kenneth A.Reid. Cenografia: Antony Mondello. Figurinos: Gene Ashman
& Rita Riggs. Com: Gary Lockwood, Anouk Aimée, Alexandra Hay, Carol Cole,
Tom Fielding, Severn Darden, Neil Elliott.
George (Lockwood), 26 anos, estudante
californiano de arquitetura, tenta lidar com o fato de sua relação com Gloria
(Hay) acabou, seu carro se encontra em vias de ser rebocado por falta de
pagamento e seus pais afirmam que ele deve se apresentar para o Exército, tendo
em vista a Guerra do Vietnã. Em meio a tudo, ele vê uma tábua de salvação
temporária em uma mulher que encontra casualmente no estacionamento. Aos poucos
sabe que se chama Lola (Aimée), aliás Sissi, e trabalha numa espelunca erótica,
onde é fotografada por ele. George retorna e consegue convencê-la de
encontrarem-se. Ela o chama para casa onde mora e conta-lhe algo sobre sua
vida: o casamento desfeito, a saudade do filho de 14 anos que está na França,
um amigo americano morto no Vietnã. George lhe arranja boa parte do dinheiro
que faltava para completar sua passagem e, no dia seguinte, quando deverá
apresentar-se ao Exército, sabe através de sua amiga Barbara (Cole) que Lola já
partiu. Enquanto fala ao telefone percebe que seu carro está sendo rebocado.
Com extrema maestria e senso de ritmo,
Demy narra essa crônica das últimas quarenta e oito horas do jovem protagonista
antes de ser chamado para o Exército, onde a irônica história de amor fugaz
acaba ganhando destaque. Muito se deve ao seu perspicaz senso de tempo e
espaço, poucas vezes tão bem explorado no cinema: suas seqüências de George
dirigindo nas ruas de Los Angeles ao som de Bach, Schumann ou música pop são
célebres; suas locações, como a casa de George, mais estilizadas do que se
tivessem sido criadas em estúdio (um dom que já demonstrara em Guarda-Chuvas do Amor). O psicodelismo
vivia seu momento de glória e mesmo seu mau gosto estético parece refinado
através da bela fotografia pastel, seja na decoração da casa dos amigos músicos
de George (no filme, como na realidade, a banda Spirit), nas roupas ou na
carona que o protagonista cede a uma garota, que vem a lher presentear com um
cigarro de maconha. Distanciando-se dos musicais que o tornaram célebre e
revisitando o personagem de Lola, que havia sido presente no filme homônimo de
1960, Demy conseguiu um tocante e sombrio retrato em polaroid da América contemporânea, onde a fugacidade se encontra
presente seja no tráfico de suas ruas ou nas mudanças súbitas que vivenciam
seus desenraizados personagens. Merecia algo melhor que o medonho e redundante
título que recebeu no Brasil. Columbia. 97 minutos.
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