Filme do Dia: O Segredo do Corcunda (1924), Alberto Traversa

 


O Segredo do Corcunda (Brasil, 1924). Direção: Alberto Traversa. Rot. Original: João Cipriano. Fotografia: Gilberto Rossi. Com: João Cipriano, Inocência Colado, Filomeno Collado, Rafaela Collado, Francisco Madrigano, Benedito Ortiz, Rosário Madrigano, Anunciata Madrigano.

Numa fazenda de café paulista, o jovem e destemido peão João (Cipriano), que considera  Marcos, o empregado mais velho, como seu pai, acabam sendo demitidos, por conta de Marcos não ter se curvado a arrogância do administrador da mesma, Pedro (Francisco Madrigano) que o agrediu, sendo socorrido por João. Acreditando que a morte se encontra próxima, Marcos conta a João sobre o segredo do corcunda, sendo ele filho de uma mulher que tivera sua vida afetada pelo assassinato do marido, um dos capatazes da fazenda. Em estado bastante delicado de saúde, Marcos é guiado pelo filho ao longo da estrada, após súplicas para permanecer no local. Na estrada, o dono da fazenda, Sr. Carlos (Filomeno Collado), que retorna de viagem, escuta a dupla, a lhe contar sobre a demissão. Sua filha, Rosa (Inocência Collado) encantada pelas flores que observa, torna-se quase vítima de um touro, não fosse a intervenção corajosa de João. Sensibilizado com tudo, o Sr. Carlos readmite a dupla e dá ordens a Pedro que tenham o melhor tratamento possível. João e Rosa se enamoram. Certo dia é atacado na covardia, mas Marcos mata o homem, que fora o capataz assassino de sua mãe. João e Rosa se casam e um ano após, o Sr. Carlos confraterniza com o casal e admira o neto.

Com todas as restrições conhecidas vividas pelo cinema brasileiro à época, assim como sua estrutura melodramática arraigada, antecipando, já em seus primeiros momentos, a definição de quem é mocinho e quem é vilão, através do batido recurso da “falha de caráter” que impregna quem destrata os animais, observada na figura do administrador da fazenda ao início – e redundantemente contraposta pela figura amiga do mesmo cão maltratado, Marcos – essa produção parece se distanciar menos de seus congêneres internacionais contemporâneos do que muito do que foi produzido posteriormente. Cheio de pomposas cartelas, a primeira delas fazendo menção ao ouro marrom do café que substitui o ouro dourado como riqueza maior da nação e, curiosamente, apresentando a figura do proprietário da fazenda como um “self made man”, que conquistara tudo com o esforço de seu próprio trabalho, o filme parece sinalizar, ainda que involuntariamente, para uma desconfiança maior com relação aos personagens que se adequam aos papéis sociais que lhes foram reservados; afinal, João poderá ser observado como seguindo uma trajetória de ascensão semelhante a de seu futuro sogro. Para além de todos os seus clichês, o filme se destaca pelo talento visual com o qual emoldura sua narrativa. E não falta certa dose de ironia marota, como a cartela que afirma que quem não bebe ou não fuma, não vive. Infelizmente é um dos poucos sobreviventes do cinema brasileiro de sua época e provavelmente o “longa” de ficção mais antigo preservado. Nello de Rossi Filmes. 48 minutos.

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