O Dicionário BIográfico de Cinema#205: Bibi Andersson

 


Bibi Andersson (Birgitta Andersson), n. Estocolmo, Suécia, 1935***

Ainda que Bibi Andersson tenha sido casada com um diretor, Kjell Grede - com quem nunca filmou - nossas impressões dela tem sido radicalmente afetadas por outro, com quem parece espiritualmente comprometida: Ingmar Bergman. Trabalharam juntos pela primeira vez quando ela tinha somente 17 anos, e apareceu em um comercial de sabonetes para TV, dirigido por Bergman. Aquele efeito de limpeza esfregada e alegre levou algum tempo para desaparecer. Treinou no Teatro Real de Estocolmo, de 1954 a 1956, já fazendo algumas pequenas aparições em filmes: Dum-Bom (53, Nils Poppe); En Natt pa Glimmingehus (54, Torgny Wickman); Her Arness Pengarr (54, Gustaf Molander); uma pequena participação em Sommarnattens Leende [Sorrisos de uma Noite de Amor] (55, Bergman); Sista Paret Ut (56, Alf Sjöberg); Egen Ingang (56, Hasse Ekman); e Sommarnöje Sökes (57, Ekman); interpretou então a mulher em um casal de inocentes em um grupo de artistas mambembes (o marido sendo Nils Poppe), que sobrevive ao apocalipse em Det Sjunde Inseglet [O Sétimo Selo].

Ofereceu nesta época pouco mais que uma beleza vaga e infantil, que simbolizava a esperança, no período mais pretensioso e vazio de Bergman. De forma semelhante, em Smultronstället [Morangos Silvestres] (57, Bergman), foi uma das jovens caronistas a trazerem conforto ao moribundo Isak Borg. Neste filme, Andersson parece peso pena diante da angustiada Ingrid Thulin. Foi mais seriamente testada como a mãe prospectiva de uma criança ilegítima em Nära Livet [No Limiar da Vida] (58, Bergman), mas teve apenas um pequeno papel de repertório em Ansiktet [O Rosto] (58, Bergman).

Por esta época, voltou ao teatro e realizou somente um filme em 1959: Den Kära Leken (Kenne Fant). Era a virgem a irritar Satã em Djävulens Öga [O Olho do Diabo] (60, e um dos mais divertidos filmes de Bergman). Nos cinco anos seguinte esperou amadurecer, ou ao menos assim parece, em retrospecto: foi à Iuguslávia para Nasilge Na Trgu [A Praça dos Homens Sem Alma] (61, Alf Kjellin*); em uma nova franqueza sexual com Alskarinnan [A Amante Sueca] (62, Vilgot Sjöman); Kort ar Sommaren [Curto é o Verão] (62, Bjarne Janning-Hansen); Ön (64, Alf Sjöberg, mas lançado somente em 66); uma das mulheres de Bergman em För Att inte Tala om Alla Dessa Kvinnor [Para Não Falar de Todas Estas Mulheres] (64); Juninatt (65, Lars-Erik Liedholm); inutilmente para a América para Duel at Diablo [Duelo em Diablo Canyon] (65, Ralph Nelson).

Precisou de umas férias para se preparar para um dos mais angustiantes papeis femininos que a tela já apresentou: a enfermeira Alma em Persona (66, Bergman). Que esta obra-prima deva tanto a Bibi Andersson foi um reconhecimento de sua maior experiência emocional. Tinha 30 anos então, e na impressionante cena que ela e Liv Ulmann olham em direção à câmera, como se esta fosse um espelho, e Ulmann ajeita o cabelo de Andersson, é como se Bergman dissesse: "Olha o que o tempo fez. Observe que criatura é esta." Alma fala ao longo de Persona, e nunca é respondida, crescendo então sua instabilidade e insegurança. Tecnicamente o papel pede domínio do tempo e movimento para expor as lacunas da alma. E foi ao apresentar o colapso, ao reviver a experiência da orgia de Alma na praia anos atrás, deixando deliberadamente vidros sobre o cascalho, que compreende com admiração e pânico, ser supostamente somente outra personagem para a atriz supostamente enferma, que a própria Andersson aparenta ser uma das mulheres mais atormentadas do cinema.

Esteve como apoio, hisurta e pouco à vontade em En Passion [A Paixão de Ana] (69, Bergman), o centro da regeneração em The Touch [A Hora do Amor] (71, Bergman) e num dos episódios de Scener ur ett Äktenskap [Cenas de um Casamento] (73, Bergman). A Hora do Amor demonstrou o quanto ela é  a mulher mais calorosa e de livre espírito de Bergman, mais ampalmente compassiva que Thulin ou Ulmann. Sendo mais robusta, sua angústia é mais comovente, e sua obstinação mais encorajadora.

Necessariamente, isto parece ser o centro de sua vida como atriz. Mas, em acréscimo, interpretou Miss Julie na TV sueca, Depois da Queda e Quem Tem Medo de Virginia Woolf? nos palcos, e estes outros filmes: Syskonbädd 1782 [My Sister My Love] (66, Sjöman); Le Viol (67, Jacques Doniol-Volcroze); Svarta Palmkronor [Palmeiras Negras] (68, Lars Magnus Lindgren); Flickorna [The Girls] (68, Mai Zetterling); Taenk pa et Tal (69, Palle Kjaelrulff-Schmidt); Storia di una Donna [Entre Dua Paixões] (69, Leonardo Bercovici); The Kremlin Letter [Carta ao Kremlin] (70, John Huston); Afskedens Time (73, Per Holst); Blondy (75, Sergio Gobbi); I Never Promised You a Rose Garden (77, Anthony Page); An Enemy of People [O Inimigo do Povo] (78, George Shaefer); Quintet [Quinteto] (79, Robert Altman); L'Amour en Question (79, André Cayette); The Concorde - Airport'79 [Aeroporto 79: O Concorde] (79, David Lowell Rich); Twee Vrouwen [Twice a Woman] (79, George Sluizer); Barnförbjudet (80, Johan Bergenstrahle); Blomstrande Tider (80, John Olsson); Marmeladupproret (80, Erland Josephson e Sven Nykvist); Jag Rodnar [I Am Blushing] (81, Sjöman); Svarta Fåglar (**) (83, Lasse Glum); como a mãe de Nastassja Kinski em Exposed [Entre a Vida e a Morte] (83, James Toback); Berget på Månens Baksida [A Hill on the Dark Side of the Moon] (83, Lennart Hjulstrom); Sista Leken (**) (84, Jan Lindström); Huomenna (86, Julia Rosna); Babettes Gæstbud [A Festa de Babette] (87, Gabriel Axel); Los Dueños del Silencio (**) (87, Carlos Lemos); Remando al Viento (**) (88, Carlos Suárez); e, para a TV, Wallenberg: A Hero's Story [Wallenberg: O Herói Solitário] (88, Lamont Johnson).

Trabalhou menos frequentemente, a partir de então, ocasionalmente para a TV sueca: Till Julia (91, Margaret Garpe); Una Estación de Paso (92, Gracia Querejeta); Blank Päls och Starka Tassar (92, Arne Hedlund); Drømspel (**) (94, Unni Straume); Il Sogno della Farfalla (94, Marco Bellocchio); Det Blir Aldrig Som Man Tänkt Sig (00, Mans Herngren e Hannes Holm); Anna (00, Erik Wedersøe); Elina Som om jag Inte Fanns [Elina: As If I Wasn't There] (02, Klaus Haro); como a Rainha Alexandra em The Lost Prince (03, Stephen Poliakoff); Arn: Tempelriddaren [Arn: O Cavaleiro Templário] (07, Peter Flinth); The Frost (09, Ferran Audí).

Texto: Thomson, David. The New Biographical Dictionary of Film. N. York: Alfred A. Knopf, 2014, p. 64-66. 

N. do E: (*) O IMDB traz como dirigido por Leonardo Bercovici

(**) os dois últimos títulos estão com seus títulos erroneamente grafados no livro; optou-se pelos títulos presentes no IMDB, e o mesmo vale para os títulos posteriormente acrescidos da mesma marcação. 

(***) falecida em 2019. 

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