Filme do Dia: Mallorca (1933), María Forteza

 


Mallorca (Espanha, c. 1933-34). Direção: María Forteza.

Redescoberto quase um século após nos arquivos espanhóis, esse curta provavelmente é a primeira obra cinematográfica dirigida por uma mulher no país.  Suas imagens apresentam uma sensibilidade que provavelmente “falam” mais que o discurso de seu narrador over, homem, tal como a quem o filme é dedicado, o compositor Isaac Albéniz, falecido em 1909, de quem as cartelas iniciais fazem referência de que o filme foi inspirado “na estética de tua música”, fazendo inteligente associação entre a cultura do país como mais que um pano de fundo, mas aparentemente uma força propulsora na organização das imagens, como era comum nas então populares sinfonias urbanas, sobretudo à época do cinema mudo. Muitas das imagens são recortadas a partir dos arcos da cidade histórica. Por sorte a voz over tem papel relativamente pequeno. E são as edificações históricas que ganham primeiro plano, ao som de uma música nostálgica (a cargo de Rafael Parellada) e apresentadas através de suaves sobreposições. E alguns gestos triviais ganham ênfase, como a do frei que puxa água de uma cacimba no centro do pátio de seu convento. Longe da maior parte das produções documentais brasileiras contemporâneas, que geralmente tendiam ou ao sensacionalismo ou a mera exaltação monumental – aqui destaques arquitetônicos e naturais também são apreciados, mas há uma sensibilidade em se extrair poesia de certa trivialidade que, guardadas as devidas proporções, seria o equivalente de A Bronx Morning em relação às sinfonias urbanas mais convencionais centradas na ilha de Manhattan entre o início da década de 20 e o da década em que esse filme foi produzido, com uma realizadora até agora de que não se sabe absolutamente nada. 7 minutos e 50 segundos.

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