Filme do Dia: A Festa (2017), Sally Potter
A Festa (The Party, Reino Unido, 2017). Direção: Sally Potter. Rot. Original: Sally
Potter & Walter Donahue. Fotografia: Aleksei Rodionov.
Montagem: Emilie Orsini & Anders Refn. Dir. de arte: Carlos Conti &
Rebecca Alleway. Cenografia:
Alice Felton. Figurinos: Jane Petrie. Com: Kristin Scott Thomas, Timothy Spall,
Patricia Clarkson, Bruno Ganz, Cherry Jones, Emily Mortimer, Cillian Murphy.
Uma festa na casa
de Janet (Thomas), para comemorar sua nomeação ao Ministério da Saúde traz à
tona todos os fantasmas de seu círculo de pessoas próximas, a partir do momento
em que seu marido, Bill (Spall), revela-se paciente terminal e, além disso,
amante da mulher de Tom (Murphy), um investidor de baixa auto-estima e
cocainômano. De quebra, Bill também revela um breve contato com a hoje lésbica
de meia-idade Martha (Jones), provocando a ira de sua mulher, Jinny (Mortimer),
grávida de trigêmeos. Completam o grupo a amiga próxima de Janet, April
(Clarkson) e seu esotérico namorado alemão, Gottfried (Ganz).
Constrangedoramente
mal sucedida tentativa de se fazer uma peça de humor negro a partir de cacoetes
grotescos de uma elite progressista britânica. Desde seus primeiros planos com
um apoplético Timothy Spall fica-se com a impressão de que nada de bom poderá
advir dessa produção em preto&branco, que inicialmente parece sugerir uma
espécie da paródia retrô de um filme noir,
mais que rapidamente descamba para o que suscita ser uma apropriação da tradição do
humor histérico britânico em uma situação mais comedidamente realista e
enclausurada em espaço e tempo bastante demarcados; de fato, do noir além de sua fotografia apenas o
retorno à imagem inicial em pequena variação – ao inicio destituída de áudio.
Como sua equivalente brasileira contemporânea, O Banquete, também dirigida por uma mulher e contando com um
personagem que se envolveu afetivamente com mais de um dos convidados, o filme,
tal como o de Daniela Thomas, é mais um exemplo a confirmar que produções centradas
em conflitos que surgem a partir de reuniões sociais que pretensamente seriam
as mais convencionais raramente conseguem driblar a postura excessivamente
dramática (mesmo em se tratando de uma busca de comédia como aqui), no sentido
amplo da palavra, para tentaram se tornar atrativos – uma das raras exceções bem
sucedidas sendo Quem Tem Medo de V.Woolf? Se as pretensões são menores que os da produção brasileira, a
tentativa de se extrair riso das fraquezas humanas se encontra longe de
instigante, já que em contrapartida nada oferecem para além de um tosco efeito gag ao final, como é o caso dessa
produção de aparência modesta, que deve ter investido certamente a maior parte
de seu orçamento em seu elenco majoritariamente renomado, e do qual não se pode
culpar as tolices do roteiro, a precariedade dos diálogos ou a composição
pifiamente infame de suas personagens, que tentam lançar farpas contra ambos os
espectros políticos, mas prioritariamente centrado nas fileiras progressistas e
em resquícios amorfos da contracultura, como se a cachoeira de lugares-comuns
decretados pelo Gottfried de Ganz fossem quase uma ironia com a própria
perspectiva, pelo contrário, inteligentemente irônica, do personagem vivido por
ele em Asas do Desejo. Talvez uma
das vantagens dessa produção em relação a sua equivalente brasileira seja sua
metragem mais reduzida, ainda que se fique com a sensação de que tudo poderia
ter sido resumido pela metade em um curta avantajado. Adventure Pictures/Oxwich
Media. 71 minutos.
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