Filme do Dia: O Anjo (2018), Luis Ortega

 


Anjo (El Ángel, Argentina/Espanha, 2018). Direção: Luis Ortega. Rot. Original: Sergio Olguín, Luis Ortega & Rodolfo Palácios. Fotografia: Julián Apezteguia. Montagem: Guille Gatti. Dir. de arte: Julia Freid. Figurinos: Julio Suárez. Com: Lorenzo Ferro, Chino Darín, Daniel Fanego, Mercedes Morán, Malena Villa, Cecilia Roth, Sofia Inés Torner, Peter Lanzani, Marcelo Cancemi, Luis Gnecco, William Prociuk.

Carlos (Ferro), conhecido como Carlitos, é um jovem desajustado que vive provocando desgostos aos pais, Aurora (Roth) e Héctor (Gnecco). Na escola em que estuda se torna próximo de um garoto com o qual se envolve numa briga,  Ramón (Darín), e com quem passa a ter uma relação de aproximação, desejo e afastamento. Ambos namoram com irmãs gêmeas (Torner). Carlos descobriu que seu verdadeiro talento é o de invadir propriedades alheias, furtar e, posteriormente, matar, à sangue frio, quem lhe surge no meio do caminho de seus objetivos. Torna-se próximo dos pais de Ramón, Ana María (Morán) e José (Fanego). Ramón, no entanto, possui vagos planos de se tornar famoso e oferece favores sexuais ao homossexual rico, Federica (Uciuk) que lhe apresenta a um produtor de tv, tornando-se parceiro de Miguel (Lanzani).

Tudo parece aborrecidamente calculado a provocar algum efeito espetacular nessa produção: as inconsequências de seu protagonista, em aberto flerte com a juventude não do momento no qual a narrativa se passa, mas sim que foi lançado; e  o mesmo se pode dizer de sua necessidade de infligir sofrimento aos outros ou a si próprio; o descaso com as figuras paternas, representadas sobretudo no momento em que Carlos aponta a arma para o rosto da mãe; as cenas a evocarem, a partir de uma trilha musical nacional, cenas como as de Sem Destino; a relação, eivada de  homoerotismo do par masculino central, sem nunca chegar as vias de fato; a androginia de Carlos;  o absurdo de situações, como a do velho que é baleado e nada fala, mas continua andando, ignorando-os. E, no entanto, muito do que aqui se exprime, em termos de expressão de desejo de liberdade e das amarras das convenções sociais, seja lá o que exatamente represente nessa produção que parece querer fugir de um solo histórico concreto, apesar de situada em tempo e espaço desde o início, foi contemplado de maneira muito menos gratuita e densa em filmes produzidos até mesmo antes do período aqui retratado, como é o caso do brasileiro Matoua Família e Foi ao Cinema, e também com uma robustez estética que aqui desaparece em troca de efeitos imediatos de contato para com o público que se pretende dirigir. E a violência no filme de Bressane também se encontra vinculada a uma sexualidade algo egodistônica, embora suas reverberações, mesmo quando fazem uso da violência, são extremamente lúdicas e não predominantemente perverso-sádico-voyeuristas como aqui. A forma como a música é utilizada, comparando as duas produções, possuem muito do espírito de cada filme, servindo como comentário paralelo as personagens do filme brasileiro e aqui como mais um “produto” a ser usufruído, na linha tão habitual de produções que recheiam de canções pop passadas enquanto um chamariz a mais a pavimentar o gozo do espetáculo. A mãe toma o lugar da figura feminina da companheira ou namorada como a portadora da traição final. Baseado em personagem real e, tal como Madame Satã, extrai algo de seu tom provocador, em uma figura de tiques femininos, mas bastante violenta.   Co-produzido pelos irmãos Almodóvar, Pedro e Agustín. El Deseo/Kramer & Sigman Films/Telefe/Underground Contenidos. 114 minutos.

 

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