Filme do Dia: To Hear Your Banjo Play (1947), Irving Lerner & Willard Van Dyke

 


To Hear Your Banjo Play (EUA, 1947). Direção: Irving Lerner & Willard Van Dyke. Rot. Original: Alan Lomax. Fotografia: Richard Leacock.

Encenando suas tradições culturais em torno do banjo, como Mauro contemporaneamente aqui começava a fazer igualmente em relação a temas caros ao folclore e a cultura brasileira em geral, esse curta documental inicia com um virtuose no instrumento, ainda nos créditos iniciais, Pete Seeger, e logo fala em sua voz over de ter sido um instrumento criado pelos escravos do Sul, mas logo incorporado à cultura do país como um todo, e essa incorporação, tal como apresentada, significa igualmente seu branqueamento, já que nenhum músico, ouvinte ou dançarino negro é observado; os primeiros rostos negros são apresentados após mais de metade de sua metragem, e ainda assim como trabalhadores não músicos, sendo que, pouco após, um músico negro acompanha e canta em dueto com Woody Guthrie. Seeger é o narrador-músico, muitas vezes se dirigindo diretamente à câmera com fundo negro, antecipando estratégias que se tornariam viciadas décadas após nos documentários menos estilisticamente criativos. Aqui, não apenas esse recurso é utilizado muito pontualmente, como é posteriormente “desconstruído” quando Seeger observa que há um público que o acompanha e o chama para o aposento ao lado para uma festança equivalente a um “arraial” sertanejo brasileiro, sequencia relativamente longa e que se espera que conclua em tom “apoteótico” sua apologia ao banjo. Em oposição, as imagens enevoadas e um coro lastimoso, observadas antes, seguindo um andamento bem mais compassado são ilustrações da apropriação do instrumento para uma mais soturna e menos vibrante música religiosa, nem por isso destituída de seu encanto próprio. Leacock se tornará em referência do documentário direto na década seguinte (Primárias, Monterey Pop), sobretudo como cinegrafista, embora contemporaneamente já emprestasse seu talento para títulos fundamentais do gênero (A História de Louisiana). Creative Age Films. 16 minutos e 9 segundos.

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