Filme do Dia: Corações Livres (2002), Susanne Bier

 


Corações Livres (Elsker dig  forEvigt, Dinamarca, 2002). Direção: Susanne Bier. Rot. Original: Sussane Bier & Anders Thomas Jensen. Fotografia: Morten Søborg. Música: Jesper Winge Leisner. Montagem: Pernille Bech Christensen & Thomas Krag. Dir. de arte: William Knuttel. Figurinos: Stine Gudmundsen-Holmgreen. Com: Mads Mikkelsen, Sonja Richter, Nikolaj Lie Kaas, Paprika Steen, Stine Bjerregaard, Birthe Neumann, Niels Olsen, Ulf Pilgaard.

O casal Cecile (Richter) e Joachim (Kaas), tem sua vida subitamente transformada, com um atropelamento sofrido pelo último, que o deixa tetraplégico. A autora do atropelamento Marie (Steen), sente-se grandemente culpada e seu marido Niels (Mikkelsen), se torna um dos médicos que acompanha o caso. Cecile, fragilizada com os acontecimentos, acaba buscando apoio em Niels, que se torna seu amante. A suspeita e descoberta do relacionamento pela filha do casal, Stine (Bjerregaard), provoca a desagregação da família e posterior saída de Nils. Porém, quando se encontra disposto a morar com Cecile, essa muda de opinião, já que Joachim, que há muito tempo não deseja vê-la, volta a manter contato.

Esse melodrama que mescla elementos grandemente clássicos do gênero com um estilo visual extremamente contemporâneo e que se tornou marca registrada dos realizadores do Dogma-95 – câmera na mão e utilização de vídeo digital, ausência de trilha sonora, etc. – e logo se difundiu pelo mundo, ressente-se de sua própria inocuidade e falta de criatividade. Faltam ao filme tanto a densidade dos melhores trabalhos de Von Trier, quanto o próprio impacto visual proporcionado por alguns filmes do movimento aqui parece se diluir, aproximando-se da dramaturgia visual vazia estilo-MTV. Iniciando e encerrando com imagens em negativo cor-de-rosa de ruas, o filme apropria-se de boa parte dos cacoetes melodramáticos sem qualquer sombra de ironia (tal como presente em Fassbinder, por exemplo) ou enquanto revelação de um retrato que transcende os próprios personagens e acaba sendo o da sociedade como um todo (como o retrato da hipocrisia social americana nos filmes de Douglas Sirk ou novamente em Fassbinder). Nesse sentido, quando a aparente novidade é se contar a mesma história com uma roupagem aparentemente nova – que, como já afirmado, nem mais tão nova é assim – pouco interesse resta e sobra metragem. Det Danske Filminstitutet/Zentropa Ent. 113 minutos.

 

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