Filme do Dia: Fari nella Nebbia (1942), Gianni Franciolini

 


Fari nella Nebbia (Itália, 1942). Direção: Gianni Franciolini. Rot. Original: Corrado Alvaro, Edoardo Anton & Guisseppe Zucca, baseado no argumento de Rinaldo Dal Fabbro, Oreste Gasperini, Guisseppe Mangione & Alberto Pozzetti. Fotografia: Aldo Tonti. Música: Enzo Masetti. Montagem: Mario Serandrei. Dir. de arte: Gastone Medin & Camillo Del Signore. Com: Fosco Giachetti, Luisa Ferida, Antonio Centa, Mariella Lotti, Mario Siletti, Lauro Gazzolo, Carlo Lombardi, Nelly Corradi.

O caminhoneiro Cesare (Giachetti), rude e completamente dedicado ao trabalho, negligencia sua relação com a esposa Anna (Lotti) e os dois filhos. Certo dia, quando chega em casa, Anna decide partir após uma discussão. Cesare se envolve então com a sensual e solteira Piera (Ferida), com quem passa a viver. Ele tem a convicção não despropositada que Piera o traiu com o colega de trabalho, Carlo (Centa), por quem Cesare possui verdadeira aversão. Quando pega a arma pensando em se vingar volta a surgir a esposa Anna, que decide retornar.

Por mais que, em última instância, as relações representadas no filme traiam o quanto havia de patriarcal na sociedade italiana – em nenhum momento, Cesare fica efetivamente só, quando sua mulher o abandona logo aparece uma amante e quando essa demonstra sinais de infidelidade logo ressurge a mulher arrependida – tampouco se pode deixar de observar uma franqueza na relação entre gêneros praticamente interdita ao cinema americano contemporâneo. Assim como uma variância de papéis femininos que não se adéquam propriamente ao ideário fascista, por mais que acabem se adequando aos convencionais papéis da mulher séria e da “vulnerável” Com relação ao sexo fora do casamento, é exemplar a cena na qual Cesare acorda na cama da amante. Com relação a relativa autonomia feminina, há tanto a cena em que Anna decide ir embora de casa, mesmo sendo um mais que convencional retorno à casa da mãe, e a própria postura de Piera, que não aparente grandes dramas em vivenciar sua sexualidade da forma que bem entende. Por mais que ela possa ser vista como contraposição para a esposa de Cesare,  o comentário mudo da vizinha que observa Cesare e Carlo saindo ao mesmo tempo da casa de Piera acaba ganhando um verniz humorístico,  longe da mera demonização da figura de Piera. Mesmo que sua fotografia e locações que muitas vezes privilegiam tons sombrios e a própria composição de um aparente triângulo amoroso ao final sugiram um fim tão dramático quanto o do “realismo poético” francês que parece ter lhe servido de inspiração, no final Cesare deixa claro o retorno da amizade com Carlo, selando um pacto de evidente cumplicidade masculina, já que o “objeto” em questão não era a esposa, mas sim a amante, e demonstrando o quão pouco tanto uma quanto outra de fato representam para o protagonista que ao final de contas não parece ter transformado tanto assim o egoísmo que apresentara ao início. Existem ao menos duas outras versões, uma delas 20 minutos mais longa.  Fauno Film para ICI. 75 minutos.

 

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