Filme do Dia: À Beira do Mar Azul (1936), Boris Barnet & S. Mardanin

 



À Beira do Mar Azul (U Samogo Sinego Morya, URSS, 1936). Direção: Boris Barnet & S.Mardanin. Rot. Original: Klimenti Mints. Fotografia: Mikahil Kirilov. Música: Sergei Pototsky. Dir. de arte: Viktor Aden. Com: Nikolai Kriuchkov, Yelena Kuzmina, Semyon Svashenko, Lev Sverdlin, Alexei Dolinin, Sergei Komarov, Aleksandr Zukhov.

No sul do Mar Cáspio, no Azerbeijão soviético, dois marinheiros são recolhidos por pescadores após dois dias à deriva no mar apoiados num dos mastros de sua embarcação. Aliocha (Kriuchkov) e Yussuf (Sverdlin) sobrevivem. Quando chegam a uma ilha, Aliosha se apaixona a primeira vista por Misha (Kuzmina), porém quem primeiro se aproxima dela é Yussuf, gerando uma tensão entre os amigos. Após acirrada briga em alto mar, sobre quem poderá ou não casar com Misha, a dupla é interrompida pela tempestade que põe em risco todos. Aliosha e Yussuf se lançam ao mar para conseguirem tentar salvar Misha, conseguindo retornar ao mesmo porém sem ela. Enquanto a comunidade se reúne para chorar o seu desaparecimento, Aliosha e Yussuf, à beira do mar, observam que o mar trouxe Misha para a praia. Os dois a salvam e quando a levam à comunidade, o que era tristeza vira alegria. Enquanto Yussuf é alvo dos festejos, Aliosha escapa com Misha. Porém, finge que ela  não o quer diante do amigo Yussuf, enquanto essa inventa a história de um amor que partiu para a guerra e, portanto, não poderá ficar com nenhum dos dois. Aliosha parte de barco para casa e quando Yussuf o vê, vai junto.

Barnet procura extrair o máximo possível de “poesia” de imagens pictóricas do mar em seu prólogo mas, ao contrário de seu antecessor Dovjenko, sua empreitada parece soar tão fake quanto os náufragos. Caso não fosse também um musical se apostaria ser uma versão revisada, algo bastante comum em se tratando do cinema soviético, dada a falta de sincronia entre as sonoridades e as bocas dos atores, de um filme parcialmente mudo ou mesmo mudo, já que conta ainda com o auxílio de entretítulos e somente com quase 7 minutos de seu início é que se escuta os primeiros diálogos. O som é completamente a serviço dos diálogos e canções, não existindo praticamente sons ambientes, provocando um efeito estranho, como quando o amigo ralha com Aliosha em um bar e a única sonoridade percebida é a da sua voz.  E um tanto curiosamente, os náufragos após um sono reparador, já saem do barco sem necessitar de qualquer auxílio e já observam com olhares lúbricos as mulheres da ilha em que aportam.  Seu tom patético, suas interpretações toscas e a busca do exótico a qualquer custo são evocativas, guardadas as proporções, de uma experiência de Alberto Cavalcanti também retratando uma comunimeudade de pescadores (O Canto do Mar). Por bem ou por mal, em diferença ao filme de Cavalcanti, Barnet não busca realizar uma espécie de incursão “antropológica” na comunidade pesqueira, conformando-se somente com o tradicional triângulo amoroso e usando o restante como mero pano de fundo. E se existem soluções visuais criativas, evocativas do cinema vanguardista da década anterior, como o momento em que Masha rompe o colar dado de presente por ela por Aliosha, na mesma cena do bar, elas se perdem como as próprias contas caídas, cujo brilho individual é insuficiente diante de um conjunto extremamente mal resolvido, como demonstra o próprio final da cena, em que Aliosha afirma que falará e se parte para a sequência seguinte.  À facilidade com que Aliosha se vira de bruços quando se encontra emburrado ou triste se une o momento piegas em que todos choram o desaparecimento de Misha. Em nome do “amor fraternal” que nutre por Yussuf, Aliosha abdica da mulher que ama, em um claro exemplo do que também se reproduzirá ad nauseum no cinema clássico norte-americano, em que a homossociabilidade é mais importante que o amor conjugal. Azerfilm/Mezhrabpomfilm. 71 minutos.

 

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