Filme do Dia: A História Não Contada dos Estados Unidos - Johnson, Nixon & Vietnã: O Reverso da Fortuna (2012), Oliver Stone

 


A História Não Contada dos Estados Unidos – Johnson, Nixon & Vietnã: O Reverso da Fortuna (The Untold History of the United States. Chapter 7: Johnson, Nixon & Vietnan: Reversal of Fortune, EUA, 2012). Direção Oliver Stone. Rot. Original Peter Kuznick, Matt Graham &Oliver Stone. Música Craig Armstrong & Adam Peters. Montagem Alex Márquez.

Inicia com áudio de Martin Luther King criticando a prioridade das políticas americanas em relação ao armamentismo militar em oposição ao descaso por interesse em políticas sociais, enquanto observamos imagens de conflitos internos e externos (Vietnã) vividos pelo país na década. Não se trata de um discurso somente generalista, pois o líder negro pontua, inclusive, as intervenções militares americanas ao redor do mundo. Neste quesito, Lyndon Johnson, dois dias antes do enterro de Kennedy já sinalizara para uma mudança em relação ao arrefecimento do envolvimento militar no Vietnã – dois meses depois, esta mudança já se torna visível no palco da guerra. As mentiras sobre o aprofundamento no conflito são similares as da invasão do Iraque de 2003, e somente serão conhecidas da maior parte dos americanos muito tempo após. O primeiro exemplo desta nova política mais aguerridamente intervencionista tem como primeiro exemplo o caso brasileiro, comentando o apoio na desestabilização do governo Goulart (há um esforço hercúleo por parte de Stone para pronunciar o nome João) e ilustrando a longa duração da ditadura com fotos oficiais entre seu primeiro e último presidente, Castelo Branco e Figueiredo respectivamente. Segue-se o caso da República Dominicana.  O apoio à Grécia (ilustrado pelo clássico Z, de Costa-Gavras) gera um agente da CIA no posto de premiê de um país europeu. Mas é a Ásia o continente mais reticente à influência americana. A China testa sua primeira bomba atômica em 1964, e a Indonésia traz três milhões de inscritos em seu Partido Comunista, montante somente menor que o da China e da URSS. Logo, os americanos não apenas apoiarão Sukharno, cujo governo massacrará entre meio e um milhão de opositores (motivo a ser tematizado, décadas após, no documentário O Ato de Matar), como os serviços secretos da Inglaterra, Austrália e Estados Unidos entregarão ao regime listas de suspeitos de simpatias comunistas. Tudo que se movia era considerado alvo legítimo (ilustrado pelas imagens de Apocalipse Now). Ao final de 67, Johnson já havia enviado mais de meio milhão de americanos ao Vietnã. Internamente, movimentos crescem contrários a guerra e um primeiro conflito com a polícia se dá na Universidade de Wisconsin, em outubro de 67. Quando aborda a vigilância próxima de Luther King pelo FBI utiliza trechos de F.B.I – Arquivo Secreto. Os protestos se tornam mais avassaladores no ano de 1967, e a polícia mata 26 negros em Newark e 42 em Detroit. A situação se torna crescentemente tensa em relação ao Vietnã. Em meio aos boatos de um colapso mental de Lyndon Johnson, este desloca Robert McNamara, crescentemente crítico das táticas utilizadas na guerra e do bombardeio maciço, para o Banco Central. O medo da fraqueza foi uma obsessão recorrente dos líderes com grande capacidade de decidir, e Johnson não ficou impune a ele. Já Hoover temia a aproximação  dos movimentos anti-guerra da militância negra, tendo em vista a enorme quantidade de soldados negros no Vietnã. Hoover se vingou de King, não lhe oferecendo nenhuma proteção policial e até mesmo o incentivando a suicidar-se com correspondências anônimas. Do outro lado, era crescente o número de celebridades a se posicionar publicamente contra a guerra, do pediatra Benjamin Spock ao pugilista Muhammed Ali (representado aqui tanto por imagens de arquivo quanto por cenas de Ali), passando pela estrela em ascensão Jane Fonda. Robert Kennedy anuncia sua candidatura à presidência do país. E logo viria a ser assassinado, como o irmão, oficialmente por alguém isolado como o assassino de Luther King, no caso de Kennedy o palestino Sirhan Sirhan. Os protestos estudantis explodem ao redor do mundo (Tóquio, Berlim Ocidental, Cidade do México, Roma, Praga). Os incidentes em torno dos protestos, e sobretudo sua repressão na convenção democrata de Chicago, de 1968, levariam muitos a acreditar que a divisão pró e anti-Vietnã era tão divisória do país quanto havia sido a Guerra Civil um século antes. Os temores dos conflitos nos guetos, dos protestos anti-guerra e toda sorte de mudanças à época empurrou massivamente o eleitorado branco americano para a candidatura de Nixon. O discurso de lei e ordem pelo qual ganharia destaque provocaria, na prática, caos e desordem, tornando-se o único presidente a renunciar ao seu mandato. Sob sua administração a Guerra do Vietnã prosperou por mais sete anos e metade das vítimas americanas do conflito. Tendo vindo a tona somente depois do ocorrido, o célebre massacre de My Lai, não encontraria amparo entre os americanos, 65% deles indiferentes ao mesmo, segundo pesquisa. O único oficial parcialmente condenado receberia perdão presidencial, com apoio da maioria da opinião pública. Embora seja sabido de planos de uso de armas nucleares em 1969, o líder sucessor de Ho Chi Min, morto em 1969, afirma ter havido 13 ocasiões de ameaças de uso de armamento nuclear. O presidente Quincy Adams, o sexto dos Estados Unidos, já havia alertado de muito antes sobre o erro de se buscar demônios fora do país. Nixon cada vez mais se apropriava da bebida como escape e era particularmente obcecado pelos protestos contrários a guerra e pelo  filme Patton – o retrato traçado por Stone no documentário parece ainda mais crítico e menos conciliador que sua versão ficcional (Nixon). 6 estudantes foram assassinados em repressão, quatro deles em Ohio, gerando uma onda de greves e protestos por um grande número de universidades ao redor do país. Quando confrontado com seus erros, Nixon afirma numa entrevista que advindo de um presidente não é ilegal. Dos soldados no Vietnã, mais de 50% afirmavam fazer uso de maconha. O secretário de defesa orientou seus subordinados a não seguirem as ordens do presidente. A teoria do dominó de Eisenhower não se concretizou. A maior parte do sul asiático não abraçou simpatias comunistas. A democracia chilena, estável desde 1932, não sobreviveria a Kissinger e Nixon. Enquanto o Banco Mundial de McNamara negava empréstimos ao governo chileno, a CIA ajudava a desestabiliza-lo politicamente.  Não deixa sequer de fazer menção ao sacrifício do oficial mais fiel a democracia, René Schneider. Ou a Operação Condor, conluio opressor contra opositores dos regimes ditatoriais em metade dos países sul-americanos, executando mais de 13 mil pessoas fora de seus países.  A ferocidade da pose de buldogue de uma foto a destacar Pinochet, foi muito bem escolhida. Stone endossa a tese de Allende ter tirado a vida com um rifle que lhe havia sido presenteado por Fidel Castro. Que país é este, capturado em meio ao turbilhão de eventos incluindo o Vietnã, o escândalo de Watergate e as denúncias em relação a arapongagem da CIA? A resposta é um país em crescente afluência econômica e liberdades sexuais, e até mesmo diminuição dos indicadores sociais entre brancos e negros. Escândalos financeiros rapidamente desparecerem pelos ralos e no caos. A crise do petróleo de 1973, com a quadruplicação dos barris pela OPEP. E os estragos provocados pelos pesticidas no Vietnã provocaram gerações repletas de anomalias e monstruosidades, entre os vivos e os fetos. É o momento de imagens de Rambo II: A Missão. Houve um esforço consciente de afastar o Vietnã da memória coletiva do país. O que explica tampouco saberem sobre o país a juventude atual, embora a guerra tenha sido tão fundamental para uma geração não muito distante. E um discurso sem desculpas ao Vietnã ou ao próprio país unifica presidentes conservadores e democratas, como exemplificado por Reagan e Clinton. E uma vez mais Stone recorre aos pensamentos de um presidente pioneiro, John Adams, sobre os poderes a acreditarem estar servindo as leis de Deus, os estavam traindo na verdade. Para manter o padrão no qual mais de 50% das riquezas estão concentradas em pouco mais de 6% da população mundial motiva a manutenção das políticas de desigualdade ao redor do mundo pelos EUA. Os créditos das várias imagens de A Batalha do Chile, de Guzman, somente são referidos ao final – seguindo uma política de identificar apenas as ficções?.  |Secret History. 58 minutos.

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