Filme do Dia: Domingo à Tarde (1965), António de Macedo

 


Domingo à Tarde (Portugal, 1965). Direção: António de Macedo. Rot. Adaptado: António de Macedo, a partir do romance de Fernando Namora. Fotografia: Elso Roque. Montagem: António de Macedo. Com: Isabel de Castro, Ruy de Carvalho, Isabel Ruth, Alexandre Passos, Constança Navarro, Fernanda Esmeralda, Fernanda Borsatti, Fernanda de Figueiredo.

Jorge (Carvalho), introspectivo e pouco comunicativo, envolve-se emocionalmente com uma paciente sua, Clarisse (Castro), que se encontra em estado terminal de leucemia. Apesar de seus esforços, Clarisse segue o mesmo destino reservado a maior parte dos pacientes de Jorge.

Com a mesma bossa distanciada e fria que seus créditos finais assomam, criando imagens assimétricas entre o branco e o preto básicos, este filme apresenta da forma mais desapaixonadamente antisentimental o seu caso de amor algo desesperado. E a continuidade da vida após o fim irremediável dele. O gesto do personagem vivido pelo longevo ator Ruy de Carvalho, é o mesmo (cabeça abaixada entre as mãos, cigarro na boca) até porque se trata de um retorno ao momento apresentado ao início do filme. A indiferença cortante do trem a passar incólume pelos trilhos e do conjunto habitacional popular que se observa da janela do escritório de Jorge servem de contraponto. Curiosamente, o título da composição de jazz instrumental que acompanha boa parte do filme e provavelmente composta para ele já que possui o seu título, é homônima da melodramática canção de Nelson Ned que tanto sucesso fez em Moçambique em meados dos anos 70 (e que pode ser ouvida em Virgem Margarida), sendo mais um elemento a trabalhar o dramático em chave modernista. Inclusive seu retorno incessante de alguns motivos, acentuando ainda mais o ciclo sempre anunciado da morte que o tratamento diferenciado emprestado por Jorge a Clarisse, tampouco irá deter. E os filmes que são observados pelas personagens, não são nada dissonantes de seu próprio clima, mas antes o reforçam, com diálogos em línguas outras (latim?  e uma língua nórdica) e filmados pelo próprio Macedo. Em uns dois momentos apenas, faz uso das cores, numa delas deixando em evidência o vermelho do sangue no ambiente laboratorial.  Há ecos de Bergman, sendo a seu modo o médico de Macedo tão visceralmente imbuído do mesmo eterno fracasso ao qual é condenado sobretudo o ser consciente de todo e qualquer salvação, seja da alma ou do físico. É considerado o quarto filme do Novo Cinema Português, e a primeira obra ficcional de Macedo e foi vitimado pela censura, tendo seu lançamento ocorrido somente um ano e meio após. Produções Cunha Telles para Imperial Filmes. 88 minutos.

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