Filme do Dia: Caminhos Ásperos (1953), John Farrow
Caminhos Ásperos (Hondo, EUA, 1953).
Direção John Farrow. Rot. Adaptado James Edward Grant, a partir de um conto de
Louis l’Amour. Fotografia Robert Burks & Archie Stout. Música Hugo
Friedhofer & Emil Newman. Montagem Ralph Dawson. Dir. de arte Alfred
Ybarra. Guarda Roupa Carl Walker. Maquiagem Web Overlander. Com John Wayne,
Geraldine Page, Ward Bond, Michael Pate, James Arness, Rodolfo Acosta, Leo
Gordon, Tom Irish, Lee Aaker.
Hondo (Wayne) se aproxima de Angie
(Page) e do garoto Johnnie (Aaker), filho dela. Após um contato romântico
inicial, algo entravado pelo fantasma do marido de Angie, Ed Lowe (Gordon),
desaparecido há tempos. Quando abandona a família, Hondo tem um conflito na
cidade com ninguém menos que Ed, que o acusa falsamente de roubar seu cavalo.
Ele segue Hondo e ambos são atacados por um grupo de índios, salvando-lhe a vida, quando é atacado por índios. Porém,
Ed tenta esquivamente mata-lo e é morto.
Os índios, liderados por Vittorio (Pate), aproximam-se do rancho de
Angie, e pretendem tutelar Johnnie, acreditando, como Hondo antes, seu pai se
encontrar morto. Perseguido pelos índios, Hondo consegue inicialmente se
esquivar da tribo em massa, mas é capturado. Quando já se encontra definida a
sentença de morte de Hondo, este é salvo por Vittorio, pensando se tratar do
pai do garoto Johnnie. É proposto a ele um duelo com o número dois da tribo, Silva (Acosta), no qual sai vencedor.
Hondo retorna ao convívio com Angie e Johnnie. A breve tranquilidade é
interrompida pela presença da cavalaria, liderada pelo Tenente McKay (Irish),
que possui uma percepção rasa e maniqueísta dos apaches. Ao mesmo tempo, a
morte de Ed por Hondo chega aos ouvidos de Angie, por um desafeto de Hondo,
Lennie (Arness). Inicialmente abalada, Angie considera a sordidez do marido
falecido e seu desejo de permanecer junto de Hondo. A cavalaria retorna de um
primeiro confronto com os índios, com o amigo de Hondo, Buffalo Baker (Bond),
com o Tenente ferido, mas com a morte de Vittorio. Hondo auxilia na travessia
do grupo ao forte, sendo encurralados pela tribo indígena, com baixas de ambos
os lados. Hondo mata o novo líder índio, Silva, provocando o recuo dos índios e
a travessia segura dos membros da cavalaria e de Angie e o filho.
Trata-se, inicialmente, de uma verdadeira aula sobre a disparidade de visão de mundo entre gêneros. Com o Hondo de Wayne observando, de forma um tanto paternalista, a Angie, de Geraldine Page (em seu primeiro papel creditado no cinema, já como principal e numa interpretação marcante, não menos que luminosa). Não apenas observando, mas agindo. É ele que percebe a lorota sobre o marido ausente. Ele que a toma em seus braços e beija. E que alerta sobre os Apaches, já tendo vivido entre eles, e inclusive tido uma mulher apache – o que desperta a curiosidade e o interesse nele por Angie. E a história parece se encontrar do lado dele. Tendo em vista que Angie viveu por muito tempo, apenas com seu filho, próxima dos índios, sem nunca ser importunada por eles. E pouco depois de Hondo alertá-la, estes aparecem em peso. E se não cometem nenhuma violência, passam a pressioná-la em relação a seu filho. Wayne possui uma masculinidade tão hors concours que seu Hondo consegue vencer e humilhar o marido da mulher que beijara, antes mesmo de saber quem era. E quis o destino que fosse morto após ter sido salvo da morte pelos índios justamente por Hondo, que o salvara deles, mas ia sendo vítima da traição dele. Que o pobre cão será sacrificado, não se tem dúvida, dada a inexistência de um equivalente humano mais frágil que serviria de apoio emocional ao herói – a participação de Ward Bond, coadjuvante recrutado com frequência por Ford, é minúscula. E por falar em Ford, a persona de Wayne neste filme é de longe menos radical que no clássico do realizador no gênero, lançado apenas três anos antes deste, Rastros de Ódio – cuja cena inicial, mais modesta tanto em quantidade de personagens, quanto de composição de cena, é evocativa da do filme de Ford, com a mulher de alguma forma vinculada no passado ou aqui no futuro, observa a chegada deste forasteiro com a mão contra os raios solares. De fato, Hondo é bem menos intoxicado de ódio que o Ethan Edwards, de Ford. Ele viveu com os Apaches, afirma que eles detestam quem mente e é salvo da morte pela fotografia do garoto, em uma cascata de dádivas, algumas não retribuídas: Hondo salva a vida de Ed Lowe, que imediatamente após ser salvo, “retribui” tentando mata-lo, mas indiretamente salva a vida de Hondo posteriormente, ao ser encontrado por Vittorio, o apache de nome estranhamente italianado, junto dele a foto do garoto, surrupiado das roupas do pai falecido. Ao final, Hondo observa com pesar o desaparecimento de um modo de vida, quando se comenta que um reforço na cavalaria aniquilará os apaches sobreviventes. A cavalaria, na verdade, surge como mais ameaçadora a estabilidade de Hondo e Angie que os índios. Porém, quando as tensões apertam, ninguém duvida que Hondo não apenas ajudará na segurança da cavalaria e pioneiros, como matará alguns índios. Ford teria dirigido sem crédito as aborrecidas cenas do confronto final. O cão collie Pal, não parece deslocado em um ambiente de western, como saído de um filme da série Lessie à toa, pois foi o cão original utilizado nos filmes da série. Seguindo a tradição de alguns grandes espetáculos cinematográficos, ao menos desde E O Vento Levou..., possui um intervalo, mesmo com sua modesta metragem. |Wayne-Fellows Prod./Batjac Prod. para Warner Bros. 83 minutos.
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