Filme do Dia: Children of the Age (1915), Yevgeny Bauer
Children of the Age (Deti Veka,
Rússia, 1915). Direção: Yevgeny Bauer. Rot. Original: M. Mikhailov. Fotografia:
Boris Zavelev. Dir. de arte: Yevgeny Bauer. Com: Arseni Bibikov, V. Glinskaya,
Ivan Gorskij, Vera Kholodnaya, S. Rassatov, A. Sotnikov.
Maria
(Kholodnaya) leva uma vida tranquila com o marido, Lobovich (Sotnikov) e o
filho recém-nascido até reencontrar uma amiga da juventude, Lidija (Glinskaya),
que a leva a um mundo desconhecido de festas, coqueterias, galanteios e
flertes. Um dos mais insistentes é Lebedev (Bibikov), que é recusado
enfaticamente por Maria em um parque e sobre quem Lidija afirma ter ascendência
sobre o marido no banco em que esse trabalha. De fato, pouco tempo depois
Lobovich é demitido. Lobovich conta tudo a Maria, mas essa, mesmo impactada com
a notícia, não deixa de frequentar as reuniões de Lidija e seus amigos, cedendo
aos galanteios incisivos de Lebedev, e decidindo abandonar o marido para ir
morar com ele. Depois disso, não se dando por satisfeita, enquanto a tentativa
de Lebedev comprar o pai e ficar com os direitos sobre sua mulher e filho se
demonstra infrutífera gerando, inclusive, um estrangulamento do mesmo por
Lobovich, Maria sequestra a criança.
A beleza da
encenação pode ser observada em planos como a da perspectiva da galeria em que
as amigas fazem compras a partir do automóvel com motorista, de uma delas. Ou ainda dos barcos no rio em clima de festa.
Ou ainda, mesmo composições mais simples e não menos inspiradas como a que
Maria divide uma rede com Lidija. A perspectiva do desejo feminino é a da
irresponsabilidade, traição e inconsequência. Mesmo ficando a par que o marido
perdeu o emprego, Maria continua a se divertir com os libertinos amigos de
Lidija – e essa, outra mulher, surge como o elemento que irá pôr Maria no mapa
do “mau caminho”, como se essa própria não tivesse maturidade suficiente para
optar por sair ou não com a amiga e seu grupo. Visualmente talvez seja a cena
mais próxima do melodrama griffitheano, contrapondo os risos e leveza do
piquenique no campo com um atormentado marido a dar voltas em seu escritório. À
figura inconsequente de Maria se soma um Lobovich exangue, que aceita como um
cordeiro e sem qualquer reclame que essa saia de casa e que já testemunhara a
corte de Lebedev à esposa em seus primórdios sem qualquer comentário; ao menos
até o momento em que Lebedev propõe-lhe uma pequena fortuna em troca dos
direitos da esposa e do filho, soltando aí toda a sua raiva represada – que ele
fique satisfeito, inicialmente, com a proposta, mesmo vindo do homem que ficou
com sua esposa e o demitiu, não deixe de ser curioso mas não inverossímil,
principalmente em seu ataque de fúria, típica de alguns homens demasiado
controlados. Destaque para o momento (provavelmente proposital e encenado) em
que Lidija e Maria, alinhadas senhoras da elite, cruzam com uma mulher em
trajes andrajosos, um dos poucos momentos em que o filme dá mostras de outros
mundos (e outras histórias) para além da elite focada. De forma mais breve que
em Griffith, mas talvez devedor desse, ao final existe um motivo para suspense,
quando o carro de Maria não funciona, enquanto ela se encontra agoniada com a
eminente chegada do ex-marido, pois sequestra o filho de ambos. Ao contrário
daquele, aqui não se trata de uma situação envolvendo velocidade e
perseguições, mas um tranquilo Lebovich a andar sem pressa pela calçada e o
ritmo em que a montagem paralela é construído tampouco possui a verve do seu
equivalente norte-americano. Nenhuma redenção endereçada a Lobovich ou culpa à
Maria são ainda mais destoantes em relação ao melodrama de Griffith.
Khanzhonkov. 62 minutos.
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