Filme do Dia: O Professor Bachmann e a Sua Turma (2021), Maria Speth

 


O Professor Bachmann e a Sua Turma (Herr Bachmann und Seine Klasse, Alemanha, 2021). Direção Maria Speth. Rot. Original Maria Speth & Reinhold Vorschneider. Fotografia Reinhold Vorschneider. Montagem Maria Speth.

O que se torna o mais encantador desta proposta paradoxalmente é a que igualmente também pode suscitar maiores questionamentos. Sua aproximação com a vida parece sugerir uma ausência de esforço tão grande, a ponto de se questionar o valor artístico em si. E tudo azeitado por opções bastante reconhecidas de um cinema contemporâneo. Trata-se de um documentário ou ficção? Ao nos indagarmos a respeito, inicialmente,  trazemos junto, de reboque, que seja qual for a resposta, há uma notória aproximação com seu reverso, ou seja, se for ficção é muito próxima da linguagem documental e vice-versa. Cabe ainda neste receituário, os cortes secos com câmera fixa, a ausência de trilha sonora. Há temas sensíveis a realidade de boa parte do globo, e particularmente da Europa e, da Alemanha em peculiar, como nação mais pujante economicamente do continente. Não se trata de uma escola qualquer. É uma escola repleta de imigrantes ou filhos destes, e boa parte de seu quadro de professores idem. E fica demonstrado o quanto a proximidade, convívio, desarmamento de espíritos e se ir além do currículo formal pode ser uma demonstração vigorosa de ensino. Para se ficar em um único exemplo, há aulas sobre o período nazista na Alemanha, com exibição de material iconográfico, mas é de longe mais marcante (ao menos para o espectador, mas provavelmente para os alunos igualmente) quando Bachmann conta a origem de seu sobrenome; advindo de família polaca, seus pais, assim como todos os nomes de poloneses foram automaticamente germanizados, e o sobrenome carregado por ele sequer chegou a ser escolhido por eles, mas imputado por um funcionário impaciente. Porém, uma vez mais paradoxalmente, para construir toda  a elaboração carismática do professor com seus alunos, e dos próprios alunos, demanda-se uma metragem bem acima da média, talvez mais aconselhável de se vivenciar como se se tratasse de uma minissérie. São tão carismáticas suas personagens que, ao mesmo tempo que se deseja algo próximo de uma proposta documental como a série Up, de Michael Apted, a acompanhar os então pequenos a passarem por diversas fases da vida, temer-se-ia observar igualmente os fracassos, decepções, adoecimentos e morte aos quais se encontra qualquer grupo humano. Pode-se indagar, a partir da experiência documental existente, do mesmo jeito, o quanto a experiência escolar de entrosamento razoável e de incentivo à expressão pessoal se encontraria resguardada fora dos muros da escola, quando se tem notícias quase sempre negativas sobre imigrantes na Europa. Seria uma experiência exemplar ou uma que aponta para o potencial integracionista, ou simplesmente as crianças ainda estão em muita tenra idade para perceberem a sociedade nas quais vivem? No modo observacional como se encontra disposto, não teremos acesso a tais questões, a não ser que viessem a ser tematizadas em sala, mas a poucos temas a gerarem controvérsia, sendo um deles a discussão sobre homossexualidade jogada, a partir de uma narrativa em formato de canção por Bachmann. Afora alguns exemplos isolados, os humores mais acirrados e conflitos entre os personagens somente ganham maior protagonismo durante uma viagem a uma fazenda, na qual interagem com pôneis. E os dois que chegam as vias de fato discutem o episódio, sob o comando de Bachmann, e o agressor, o aluno considerado mais avançado da turma,  chega a se emocionar quando fala de seu arrependimento. Sua solução visual final, de não apresentar Bachmann emocionado após se despedir dos seus queridos pupilos, com quem conviveu em tantas situações distintas, ao apresenta-lo de costas a limpar as lágrimas, é outro grande achado. |Madonnen Film. 217 minutos.

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