Filme do Dia: Ante Ele Toda Roma Tremia (1946), Carmine Gallone
Ante Ele Toda Roma Tremia (Avanti a
Lui Tremava Tutta, Roma, Itália,
1946). Direção: Carmine Gallone. Rot. Original: Gaspare Cataldo, Carmine
Gallone & Gherardo Gherardi. Fotografia: Anchise Brizzi. Montagem: Niccolò
Lazzari. Dir. de arte: Gastone Medin. Com: Anna Magnani, Tito Gobbi, Hans
Hinrich, Gino Sinimberghi, Edda Albertini, Guido Notari, Tino Scotti, Giuseppe
Varni.
Ada (Magnani) e Marco (Gobbi) fazem
parte de um grupo de resistência italiana a ocupação alemã, Marco escondendo
em sua casa o inglês Frank (Sinimberghi). O esconderijo acaba sendo descoberto,
e Ada, e principalmente Marco, tornando-se suspeitos de conspiração as forças
alemãs, cujo comandante (Hinrich), profundo admirador do talento de Ada, por
quem parece nutrir uma paixão secreta, assiste com a atenção a montagem de Tosca, protagonizada pelo casal. A
exibição da ópera ocorre de forma tensa e, no ápice dramático, no qual o herói
será fuzilado pelas forças napoleônicas, um alcapão é aberto por outros membros
da resistência que, provocando a escuridão temporária no teatro, conseguem
fugir com o casal, que possui o prazer de se apresentar para as forças aliadas
após a Libertação.
Ainda que tido por alguns como fazendo
a ponte entre a tradição operística (do qual Gallone era um dos mais ardorosos
entusiastas, como demonstra suas duas
versões de Casta Diva, uma biografia
sobre Verdi, dentro outros e mesmo seus
filmes históricos de propaganda) presente no cinema italiano e o Neorrealismo,
por conta de sua temática envolvendo a ocupação alemã e a resistência, o filme
pouco ou nada compartilha com as produções neorrealistas. Não apenas por conta
da inexistência de elenco amador ou de uma presença expressiva das
locações, nem tampouco descrever uma
realidade de setores populares, mas igualmente em termos estilísticos, com sua
decupagem bem mais convencional, privilegiando os primeiros planos dramáticos
em contraposição aos longos planos-seqüência que possuem mais afinidade com
seus antecedentes operísticos do que com algo semelhante realizado
contemporaneamente por cineastas como Rossellini. O fato de Magnani,
celebrizada em Roma: Cidade Aberta,
como colaboradora da resistência que será morta pelos alemães, por motivos
outros, na cena mais dramática desse filme, certamente deve também ter
auxiliado na formulação de comparações do tipo. Assim como uma cena de tensão
com a chegada de um grupo de alemães acentuada por uma trilha sonora semelhante
ao clássico de Rossellini e não por acaso assinada por seu irmão Renzo. Dito isso, não se deve deixar de ressaltar o
engenhoso exercício de paralelismo entre o drama vivenciado pelos atores na
encenação operística e a própria situação real vivenciada por eles, que será de
uma forma truncada e pouco convincente aliviada pela notícia da vitória das
forças aliadas em seus segundos finais, provocando um desfecho diferenciado da
ópera. Ironicamente sua direção vem a ser justamente de Gallone, diretor de um
dos filmes mais fortemente vinculados e emulados pelo fascismo italiano, Cipião, O Africano (1937). Enquanto
Magnani foi muito provavelmente dublada, Gobbi era de fato um cantor lírico com
várias experiências pelo cinema, tendo interpretado Tosca com Maria Callas no teatro.
A personagem de Magnani é apresentado ao ínicio através do recurso da
“câmera subjetiva”, ouvindo-se apenas suas indicações para a criadagem, no que
certamente demonstra ser mais um capricho de estilo de seu realizador do que
possuir qualquer função dramática relevante. Excelsa Film para Minerva Film. 98
minutos.
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