Filme do Dia: O Preço de um Homem (1953), Anthony Mann

 


O Preço de um Homem (The Naked Spur, EUA, 1953). Direção Anthony Mann. Rot. Original Sam Rolfe & Harold Jack Bloom. Fotografia William C. Mellor. Música Bronislaw Kaper. Montagem George White. Com James Stewart, Janet Leigh, Robert Ryan, Ralph Meeker, Millard Mitchell.

1868, Colorado. Howard Kemp (Stewart) é o homem da lei que se deslocou por centenas de milhas em busca do procurado pelo assassinato de uma autoridade, Ben Vandergroat (Ryan). Com o auxílio das pistas indicadas pelo caçador de ouro Jesse Tate (Mitchell) e da energia física do soldado yankee, afastado das tropas por ser considerado “instável”, Roy (Meeker). Ben possui sob sua influência a jovem Lina (Leigh), cujo pai, seu amigo, foi morto em um assalto a banco. Kemp decide levar Ben e ter acesso a recompensa, porém a travessia, juntamente com os outros quatro, não será destituída dos mais diversos obstáculos. Um grupo de índios busca a figura de Roy e Kemp ordena o afastamento deste do grupo. Porém quando os índios se aproximam e uma situação pacífica parece estabelecida, Roy inicia com disparos, e os outros também precisam agir para sobreviver. Howard é ferido. Ben, por sua vez, passa boa parte do tempo, buscando criar situações de conflito no grupo. Ele consegue criar uma atmosfera de animosidade em relação a quantidade devida de cada um na recompensa. E também convence Jesse a libertá-lo e fugir consigo e Lina. Pouco depois, mata o ingênuo Jesse e se defrontará com Howard e Roy.

Nada parece tão automático ou natural quanto o ato de respirar neste western. Subir uma encosta íngreme pode custar as mãos raladas do herói e um adjuvante mais bem sucedido, não sem dificuldades tampouco. Algo um tanto incomum no cenário do gênero à época. E, apesar de tudo isso, e talvez por tudo isso, Stewart não deixa de ser a figura parental, a voz sensata de autoridade, mantendo todos sob o domínio e não tendo mais efusivos interesses amorosos-sexuais, relegados ao trio mais jovem – ele tem uma ligação muito mais próxima com o homem mais velho, a lhe seguir e admirar como um cão, tal como muito dos heróis de Ford, para quem o interesse por saias quando muito é lembrança de um passado relativamente distante (Rastros de Ódio). Ou, caso em questão, sobre intenso delírio febril. E o delírio também pode sinalizar para a concretização de um interesse romântico com alguém mais maduro e ajuizado, ao contrário de seu cínico e trapaceiro parceiro. Aliás, Ryan tem um sorriso cínico nos lábios de forma quase colada. E consegue se divertir sozinho com sua própria malícia, como na cena a qual testemunhamos seu riso solto, embora sem ninguém próximo. Que Kemp ponha a integridade física dele em risco por ele, por um ideal além da recompensa, apenas lhe provoca mais sorrisos. Porém, nada é tão sólido a ponto de não se desmanchar no ar, ao menos enquanto uma fumaça ocasional. Pode ser o interesse de Lina ou a fidelidade canina de Jesse Tate, subitamente sucumbida à sua própria ingenuidade. E o tema incidental do momento de traição não é nada distante de seus equivalentes animados para cenas semelhantes nos desenhos da Looney Tunes. E a morte sem maiores delongas de Jesse, à sangue frio, demonstra o requinte de perversidade da personalidade de Ben. Embora o filme detenha seu interesse muito mais na dinâmica das relações dos 5 personagens principais, não há como escapar, para além da trivial cena de massacre a um grupo de índios, de um final com direito a tiros trocados, por trás de pedras, no melhor estilo de revista de faroeste. E quando Kemp movimenta todos os esforços para recuperar o cadáver da recompensa e não quem lhe salvou a vida há pouco e foi levado pela correnteza? Filmado nas Rocky Mountains, Colorado. Aqui é o amigo do herói, o amigo “instável” do herói, já que também se envolve em uma briga perigosa com o próprio, tal como em boa parte das produções mudas brasileiras, quem resolve boa parte das situações, salvando mais de uma vez sua vida. |MGM. 91 minutos.

 

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