Filme do Dia: Lianna (1983), John Sayles
Lianna (EUA, 1983). Direção e Rot.
Original: John Sayles. Fotografia: Austin De Besche. Música: Mason Daring.
Montagem: John Sayles. Dir. de arte: Jeanne McDonnell. Cenografia: Dena Roth. Figurinos: Louise
Martinez. Com: Linda Griffiths, Jane Hallaren, Jon DeVries, Jo Henderson,
Jessica MacDonald, Jesse Solomon, John Sayles, Stephen Mendillo, Betsy Julia
Robinson.
Lianna (Griffiths) é uma mulher que
vive problemas em suas desgastada relação com o marido, o professor
universitário, Dick (DeVries), que
flagra certa noite fazendo sexo casual com uma de suas alunas. Lianna se
apaixona por sua professora, Ruth (Hallaren). Ela decide se separar e viver
junto com Ruth (Hallaren), para surpresa dessa própria, já que vivem em uma
pequena comunidade conservadora. Lianna conta tudo ao marido que, por sua vez,
posteriormente conta aos filhos Theda (MacDonald) e Spencer (Solomon), sendo
que para Theda a novidade é digerida mais lentamente. Lianna percebe que sua
melhor amiga, Sandy (Henderson), afasta-se dela e o mesmo se pode dizer de
Jerry (Sayles), que há muito se sentia atraído por ela, mas que tem suas
ilusões objetivamente cortadas após um encontro na casa de Lianna. Ruth, no
entanto, vê-se dividida entre Lianna e uma mulher com que vivenciara um
relacionamento bem mais longo. Solitária, Lianna vai ao bar lésbico que fora
apresentada por Ruth e lá conhece Cindy (Robinson), com quem fica uma noite.
Ruth parte da cidade. Desolada, Lianna, que já havia sido procurada
ocasionalmente por Jerry em sinal de retorno da amizade de ambos, busca apoio
junto a até então distante Sandy.
Com rara maturidade na abordagem do
tema que desenvolve, distante tanto das abordagens sensacionalistas que
habitualmente se encontravam atreladas às primeiras incursões mais explícitas
da temática lésbica pelo cinema (como Infâmia)
quanto da postura retórica auto-afirmativa da produção engajada que lhe
sucedeu, consegue traçar um tocante retrato da descoberta da identidade sexual
e dos ônus e bônus inerentes à mesma. Contribuem para seu sucesso desde uma
montagem (efetivada pelo próprio Sayles, que também, como em muitos de seus
outros filmes, atua em papel secundário) que permite respiros prolongados em
meio a tensão quase sempre latente até a honestidade com que retrata a
situação, abdicando do sentimentalismo com que habitualmente tais dramas são trabalhados
pelo cinema e fazendo grande uso de seu elenco praticamente desconhecido que
serve na medida para seu tom nada grandiloquente. Sem cair na armadilha do
voyeurismo mas tampouco sem deixar de apresentar cenas de amor entre as
mulheres, ao contrário tanto de boa parte da produção independente posterior
quanto de certo cinema de maior apelo
comercial quando da abordagem de temáticas vinculadas ao universo gay (como em Filadélfia) respectivamente. E um ingrediente que também se casa à
perfeição a sua dramaturgia é o da escolha das canções, standards da música
norte-americana, como é o caso da bela Nevertheless
I’m in Love with You cantados em chave menos enfática e mais casual.
Pode-se dizer que existe ecos de Cassavetes na forma como Sayles se aproxima da intimidade de sua
protagonista, sobretudo na bela sequencia em que Lianna busca por companhia
ocasional e encontra Cindy, mas ao contrário daquele, tanto as interpretações
como o próprio trabalho de câmera são bem mais sóbrios, nesse quesito nada
distantes do que se poderia acompanhar numa banal série televisiva. Se se corre
o risco de se traçar o perfil de Dick de maneira algo clichê, sobretudo
inicialmente, tal impressão se torna um pouco mais suavizada com o avançar do
filme. Winwood Prod. 110 minutos.
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