O Dicionário Biográfico de Cinema#202: Will Rogers
Will Rogers (1879-1935), n. Cologah, Oklahoma
Ainda que seus filmes sejam raramente revistos estes dias, e muitos jovens cinéfilos nunca o tenham visto, Will Rogers foi uma das mais reflexivas e influentes estrelas de cinema. Ele foi uma apresentação soberbamente habilidosa de bom senso sincero. Todo instinto americano que deveria existir um espaço, de não sofisticada sabedoria, que reside nas serras e nas varandas das pequenas cidades, e que sua simpatia natural e desinstruída com ordem deve, ao mesmo tempo, ser totalmente vencedora, charmosa e talentosa, era justificada em Will Rogers. Ele é o nobre selvagem vendável, o narrador casual que pisa nitidamente entre o barril de biscoitos e o fascismo, intrigado se seu passeio tímido era espontâneo ou astutamente roteirizado.
A filosofia de Rogers era reacionária, desanimadora, e provinciana, a despeito de qualquer afetação de bonomia ou tolerância. Ele desprezou ideias e pessoas que as sustentaram, baseando-se em uma vaga evolução, ao invés de uma ação direta, seu sorriso fixo escondia a rigidez de opiniões que o americano médio precisava para não ser perturbado por seus próprios preconceitos e limitações. Porém o estilo era sedutor. Rogers tinha digerido tanto o papel do cowboy filósofo, que é perigoso fazer acusações de consciente equívoco, como estragar o retrato de Lonesome Rhodes em A Face in the Crowd [Um Rosto na Multidão], de Elia Kazan.
A essência do estilo é que convence o intérprete: assim como Rogers, toda figura pública notória americana desde os anos 30, Kane ou H. Ross Perot. A simplificação da democracia, o profissionalismo da entrega, e a ascensão dos sem-teto foram os ingredientes da benovolência puída de Richard Nixon, assim como os descuidados gestos rumo à compaixão nos filmes de John Ford. De fato, em termos cinematográficos, a persona de Rogers interpretou um papel no desenvolvimento de Ford, como sua apresentação pia e astuta da mediocridade enquanto humanidade e o mais persistente vício do cinema americano. Você deve descobrir os velhos em Faulkner para se dar conta do que os veteranos charlatães de Ford são.
Rogers havia sido vaqueiro e marinheiro mercante antes dos espetáculos do Oeste Selvagem o levarem ao vaudeville. Além dos truques de lareado, seu método era "pausar um pouco" e falar pela intuição divertida dos cowboys de todo lugar. Esta demagogia ingênua encontrou muitos ouvintes rumo ao fim da I Guerra Mundial. Samuel Goldwyn, incapaz de compreender que o sucesso de Rogers necessitava da fala, contrata-o para um ciclo de filmes que provou o quão tolo Rogers era sem tempo para conversar: Laughing Bill Hyde (18, Hobart Hanley); Jubilo (19); Jes' Call Me Jim (20); Cupid the Cowpincher (20); Honest Hutch (20); Guile of Woman (21, Clarence Badger) - foi parte da América de Rogers que mulheres fossem essencialmente trapaceiras e desonestas, enquanto as decepções masculinas eram apenas jocosas: Boys Will Be Boys (21, Badger); An Unwilling Hero (21, Badger); e Doubling for Romeo (21, Badger).
Goldwyn eventualmente observou seu erro e desistiu de Rogers. O cowboy solitário fez mais dois filmes - One Glorious Day (22, James Cruze) e The Headless Horseman (22, Edward Venturini) - antes dele ir, desastrosamente, à produção ele próprio. Retornou ao palco, à parte alguns curtas realizados para Hal Roach. Enquanto isto, sua lenda cresceu. Publicou uma monstruosa coleção de homilias, que combinava perfeitamente com a aversão disseminada à permissividade dos anos 20: Rogers-isms: The Cowboy Philosopher on the Pace Conference. Trabalhou como um irônico agrimensor da cena europeia para o Saturday Evening Post e, enquanto isso, na Inglaterra, realizaram Tiptoes [Com Cupido não Se Brinca] (27, Herbert Wilcox). Novamente na América, interpretou um rancheiro que vai endireitar Washington em A Texas Steer (27, Richard Wallace).
Foi o som que capitalizou o seu estilo e a Fox que o agarrou para si. Ele morreu em um acidente de avião em 1935, mas por seis anos foi um imenso herói americano, uma voz conselheira durante a Depressão, uma garantia para os desorientados e um considerável ativo na campanha eleitoral de Franklin Delano Roosevelt, de 1932. Os filmes são peças de época, mas desconsiderar seu impacto seria esconder à hostilidade básica ao esclarecimento na América: They Had to See Paris [Eles Tinham que Ver Paris] (29, Frank Borzage); So This Is London (30, John Blystone); Lightnin' (30, Henry King); A Connecticut Yankee [O Tio Sam na Corte do Rei Artur] (31, David Butler); Young As You Feel [Mocidade Ainda que Tarde] (31, Borzage); Business and Pleasure (32, Butler); Down to Earth [Voltando à Realidade] (32, Butler); State Fair [Feira de Amostras] (33, King); Doctor Bull [Dr. Bull] (33, John Ford); Mr. Skitch [Pai de Família] (33, Cruze); David Harum [Apostando no Amor] (34, Cruze); Handy Andy (34, Butler); Judge Priest [Juiz Priest] (34, Ford), personagem revivido por Ford, incrivelmente, em The Sun Shines Bright [O Sol Brilha na Imensidade] (53); Life Begins at Forty [A Vida Começa aos 40] (35, George Marshall); Doubting Thomas (35, Butler); Steamboat Round the Bend [Nas Águas do Rio] (35, Ford); e In Old Kentucky [Dois Campeões] (35, Marshall).
Há um fascinante momento da influência de Rogers nos primórdios dos anos 30 em Paper Moon [Lua de Papel], de Peter Bogdanovich, enquanto Nas Águas do Rio toca em alguma cidade empoeirada da pradaria para tacanhos e esperançosos agricultores.
Texto: Thomson, David. The New Biographical Dictionary of Film. N. York: Alfred A. Knopf, 2014, pp. 2275-77.
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