Filme do Dia: A Balada de Narayama (1958), Keisuke Kinoshita
A Balada de Narayama (Narayama Bushiko, Japão, 1958). Direção:
Keisuke Kinoshita. Rot. Adaptado: Keisuke Kinoshita, baseado nos contos de
Shichirô Fukazawa. Fotografia: Hiroyuki Kusuda. Música: Chuji Kinoshita &
Matsunosuke Nozawa. Montagem: Yoshi Sugihara. Dir. de arte: Kisaku Ito &
Chiyoo Umeda. Com: Kinuyo Tanaka, Teiji Takahashi, Yukô Mochizuki, Danko
Ichikawa, Keiko Ogasawara, Seiji Miyaguchi, Yûnusuke Ito, Ken Mitsuda.
Em um vilarejo com grande escassez de
comida, Orin (Tanaka) se aproxima dos 70 anos e, segundo a tradição, deve ser
deixada em uma colina próxima. Ela se preocupa com o filho Tatsuhei
(Takahashi), que ainda se encontra solitário e encontra uma moça com quem quer
que ele case. Tatsuhei, no entanto, não deseja abandonar a mãe na colina.
Porém, a força de tradição prevalece.
É interessante como Kinoshita se
afasta por completo do estilo de um de seus filmes mais populares no Japão, Sublime Dedicação (1954), ainda que o
tema da dedicação irrestrita e auto-sacrificial das mulheres em relação aos
homens – lá a irmã, aqui a mãe – não deixa de fazer parte de ambos. Aqui, no entanto,
ao contrário de locações, o filme faz uso de belos e estilizados cenários e de
uma fotografia em cores que ainda realça mais o franco caráter de encenação que
a abertura das cortinas ao início do filme não esconde como ancorada no teatro
kabuki. Nesse sentido, o que foi decantado por boa parte da crítica como um
distanciamento emocional que começava nesse momento a ser articulado no cinema
ocidental é, na verdade, a transposição de uma tradição teatral nipônica. Algo
que ainda fica mais acentuado pelo constante papel das composições musicais a
auxiliarem tanto a apresentação da narrativa e a descrição do estado emocional
de seus personagens quanto seu caráter de encenação. De todo modo, nem por isso
se pode deixar de ressaltar à distância do sentimentalismo açucarado de seu
filme anterior, assim como da adesão do cinema enquanto representação
aproximada do real próxima dos matizes neorrealistas. Aqui, o ritmo lento e
compassado é destacado em vários momentos, como o que a mãe ensina segredos de
pesca a sua nora ou que Tatsuhei se dirige para Narayama com a mãe, após todo
um ritual com os anciões da aldeia. Um pequeno detalhe, que mais parece ironia,
vem ressaltar o fato de que mesmo em toda a tradição a espaço para certas
liberdades – um dos senhores que participam do ritual ressalta que a obrigação
de ao abondanar a mãe sem olhar uma vez sequer para trás não precisa ser necessariamente contemplada. Uma
outra versão seria realizada em 1983 por Shohei Imamura. Shochiku. 98 minutos.
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