Filme do Dia: O Mordomo da Casa Branca (2013), Lee Daniels
O Mordomo da Casa Branca (The Butler, EUA,
2013). Direção: Lee Daniels. Rot. Adaptado: Danny Strong, a partir de artigo de
Wil Haygood. Fotografia: Andrew Dunn. Música: Rodrigo Leão. Montagem: Brian A.
Kates & Joe Klotz. Dir. de arte: Tim Galvin, Lori Agostino, Erik
Polczwartek & Jason Baldwin Stewart. Cenografia: Diane Lederman. Figurinos:
Ruth E. Carter. Com: Forest Whitaker, Oprah Winfrey, David Oyelowo, David
Banner, Michael Rainey Jr., LaJessie Smith, Mariah Carey, Alex Pettyfer,
Vanessa Redgreve, Cuba Gooding Jr., Lenny Kravitz, Robin Wiiliams, James
Marsden, Minka Kelly, Liev Schreiber, John Cusack, Nelsan Ellis, Alan Rickman,
Jane Fonda, Adriane Lenox.
Tendo testemunhado o assassinato do
próprio pai e a violação da mãe por um branco, Thomas (Pettyfer) da família dos
proprietários da fazenda de algodão para o qual trabalhavam, Cecil (Rainey Jr.)
se torna empregado da casa. Quando fica maior, decide abandonar tudo e ganhar o
mundo. Seu talento como serviçal faz com que seu superior no hotel o indique
para trabalhar na Casa Branca, chegando nos tempos de Eisenhower (Williams),
passando pelas administrações de Kennedy (Marsden), Lyndon Johnson
(Schreiber), os dois mandatos de Nixon (Cusack), Ford, Carter e Reagan
(Rickman), quando decide pedir demissão. Nesse tempo que lá permaneceu, sua
devoção ao trabalho lhe provocou negligências no casamento com sua esposa,
Gloria (Winfrey), que se torna amante do amigo da família, Carter Wilson
(Gooding Jr.) e uma indiferença aos reclamos de seu primogênito Louis (Oyelowo)
de seguir os eflúvios de seu tempo e se engajar por completo na luta pelos
direitos civis.
A dependência de fórmulas prontas não
ajuda a criar maior entusiasmo por essa obra que, sob seu manto
formal-narrativo, poderia abrigar igualmente a biografia de um mordomo
associado a Ku Klux Klan. De fato, já se imagina que haverá algum contato entre
o presidente e seu mordomo. E que tal contato poderá provocar mudanças importantes
nas situações que exigem uma resposta rápida da autoridade federal máxima em
tempos de grande suscetibilidade do apartheid racial oficializado que
então ainda rege a sociedade norte-americana. Ou seja, os sentimentos dos
indivíduos se encontram à frente de tudo o mais. Alguém duvida igualmente, após
a dramática despedida do filho mais velho, que algo trágico acontecerá no Sul
com ele? Algum evento que fatalmente será o divisor de águas no próprio modo do
pai encarar o mundo? Dito isso, pode-se observá-lo de outra forma. Enquanto um
filme que consegue entrelaçar relativamente bem seu conteúdo pessoal e os
momentos históricos, numa espécie de cruzada que lança luzes e apresenta
eventos históricos importantes rumo à luta pelos direitos dos negros nos Estados
Unidos, e que já possui uma quantidade de títulos disponível (Mississipi em
Chamas, 42: A História de uma Lenda, Selma, Marshall:
Igualdade e Justiça, Histórias Cruzadas, Luta por Justiça, Loving:
Uma História de Amor, Mudbound, Detroit em Rebelião, Preciosa,
Raça e Redenção, A 13º Emenda, dentre vários). Além do elenco
luminoso. Não poderia faltar as inevitáveis imagens de arquivo, aqui – outro
lugar-comum, mescladas com os atores que vivenciam as figuras históricas –
envolvendo, por exemplo, o incêndio ao ônibus de ativistas em Birmingham,
Walter Cronkite, os eventos em Selma, Guerra do Vietnã, o programa de TV Soul
Train, etc. Nesse entreleçamento entre fato histórico e drama, há também
saídas facéis como a da morte de Kennedy e o sofrimento vivido por Cecil como
passaporte para enxergar as frustrações da própria esposa. Ou ainda certo
esquematismo que adere de forma muito cômoda ao momento histórico, como o de um
filho que parte para o Vietnã, enquanto outro se torna pantera negra – e vai
estar em Memphis justamente no momento em que Martin Luther King vem a ser
assassinado! A narrativa é marcada pelas administrações que Cecil vivenciou de
perto e esse é um dos trunfos do filme. Sua montagem por vezes é tão frenética
que mal se pode acompanhar os diálogos via legendas. Ah, e sobre a virada de
posição de Cecil essa se dará de forma um pouco mais original e interessante que
nossa aposta mais rasa. Quando ele literalmente se encontro no outro lado do
habitual, o dos que são servidos e não os que servem. E soma-se a tudo o
momento sentimental de reconciliação após a tão esperada tomada de consciência.
E quando se chega aos tempos de Obama na presidência, não é mais necessário
torna-lo um ator, pois Cecil já está afastado da Casa Branca há bastante
tempo. É claro que o cinema também é
rapidamente utilizado como motor para a briga que separará pai e filho por
décadas, e que parte do respeito do pai por Sidney Poitier, sobre quem acabara
de assistir No Calor da Noite, e que o filho considera uma atualização
da figura folclórica do Pai Tomás. Follow Through Prod./Salamander Pictures/Laura
Ziskin Prod./Lee Daniels Ent./Pam Williams Prod./Windy Hill Pictures para The
Weinstein Co. 132 minutos.
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