Filme do Dia: Mogli, o Menino Lobo (1942), Zoltan Korda

 


Mogli, o Menino Lobo (Jungle Book, Reino Unido/EUA, 1942). Direção Zoltan Korda. Rot. Adaptado Laurence Stallings, a partir do romance de Rudyard Kipling. Fotografia Lee Garmes & W. Howard Greene. Música Miklós Rózsa. Dir. de arte Vincent Korda, J. McMillan Johnson & Jack Okey. Figurinos Joseff-Hollywood. Com Sabu, Joseph Calleia, John Qualen, Frank Puglia, Rosemary DeCamp, Patricia O’Rourke, Ralph Byrd, John Mater.

Uma pequena criança desaparece na floresta em um assentamento hindu. Ele será adotado por uma família de lobos. Posteriormente, batizado como Mowgli (Sabu), irá se deparar com o mesmo e será motivo de temor e curiosidade de seus habitantes, que acreditam se tratar do filho desaparecido de Messua (DeCamp), já adolescente. Ele se sente atraído por uma garota de idade próxima, Mahala (O’Rourke), filha do inescrupuloso e ganancioso Buldeo (Calleia), que fica sabendo de um tesouro que foi visitado pela filha e Mowgli na floresta, sentindo-se imediatamente compelido de encontra-lo.

Apesar de todas as cores, um tanto incomuns numa produção de maior peso de identificação nacional com o Reino Unido, e mesmo em Hollywood, é impressionante o quão descolorido e se ressentindo de falta de ritmo essa produção é. Parece buscar o sucesso de O Ladrão de Bagdá, produzido dois anos antes pelos mesmos Irmãos Korda – e também com produção visual de um terceiro irmão, Vincent, e com o mesmo icônico Sabu. Trata-se igualmente de um retorno  do realizador a Rudyard Kipling e a o filme que lançara Sabu, O Menino e o Elefante, de meia década antes. Havia já uma tradição deixada pelos filmes de Tarzan, e é logico que o cinema preferiu nivelar uma literatura de pedigree mais elevado à obra de Rice Burroughs, abrindo a picada para o que Disney faria na animação duas décadas e meia após. Há um garoto criado com os animais, uma floresta (mais próxima do Nirvana, com pombos substituindo aves tropicais, que das representações equivalentes plenamente hollywoodianas, embora igualmente filmado na Califórnia), um prólogo ainda mais arrastado sobre os animais da floresta (aqui menos como intuito documentarizante aliado do verossímil, que como antecipação dos personagens que posteriormente encontraremos), e um homem semi-nu (ou mesmo se sugere completamente nu, ao início, como nos tempos do Tarzan pré-Código, mas com sombras e zonas escuras a ocultar suas pudendas). E locomovendo-se através de cipós por entre as árvores. Para não falar de um grito de identificação, aqui marcadamente mais agudo que no seu congênere africano, um uivo, herança lupina (referência à Roma Antiga?) ao invés do mais crível parente próximo nosso, como em Tarzan. Sem esquecer a iconografia cristã, com um martírio observado por uma mãe nunca tão próxima de Maria, quanto na cena em questão. Há uma história-moldura, em que um velho homem (o próprio Mogli?) conta a saga do garoto para uma mulher ocidental, numa tentativa de equivalência com o próprio filme que, no entanto, evidentemente não se cumpre, já que os personagens ficcionais indianos foram criados igualmente por um ocidental. E seu sorriso de cumplicidade silenciosa parece ser o pretexto para outra produção com o personagem, que não veio a ocorrer. Trata-se do primeiro filme a lançar uma trilha sonora original a partir de gravações efetuadas para o próprio filme e não regravação de música prévia em seus estúdios.| Alexander Korda Films para United Artists. 108 minutos.

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