Filme do Dia: The Cure (1924), Dave Fleischer

 


The Cure (EUA, 1924). Direção: Dave Fleischer. Rot. Original: Max Fleischer.

Koko, o palhaço, encontra-se com dor de dentes tal e qual seu desenhista, Max Fleischer. Com a ajuda de seu amigo coelho, após algumas tentativas malfadadas, consegue resolver seu problema. O mesmo não pode ser dito de Max, que pede socorro a Koko e ao coelho. Quando esses já se encontram preparados para extraírem o dente de seu criador, surge do outro lado da corda um leão. E com ele, todo um zoológico que quer ser consultado com problemas dentários. Max acorda, quando Koko consegue prender a linha no elevador. Max é levado subitamente pela força do maquinário, fica ferido mas feliz com o fato de ter extraído seu dente. Koko e o coelho, temendo represálias, escondem-se por si mesmo na caneta-tinteiro de Max.

Um dos exemplares mais interessantes de animação da série com o palhaço Koko – que em tempos de cinema sonoro será personagem recorrente (e coadjuvante) de Betty Boop – não apenas pela constante e frenética interação entre universos de ação ao vivo e animado quanto igualmente por uma narrativa relativamente complexa, que apenas retrospectivamente nos fará tornar conscientes que a digressão demasiado fantástica do consultório odontológico animal e seu amistoso leão que é morto por Koko e transformado em tapete sem a menor cerimônia é produto do sonho de Fleischer. Esse, por sinal, havia alertado para que a dupla animada apenas puxasse seu dente quando já estivesse adormecido após inalar gás hilariante. A relação criador e criaturas já demonstra ser interessante desde o início, quando se percebe nas formas que compõem o personagem de Koko uma bochecha demasiada saliente. E uma cartela expressa a indignação de Koko por Fleischer o ter trazido ao mundo dessa vez com as mazelas de um dor de dente. Já a cena de Fleischer sendo arrastado pelo chão ao final é digna não apenas das comédias de ação ao vivo quanto das próprias vanguardas, como a francesa, contemporâneas. O caráter anedótico e algo perverso do universo de vanguarda também impregna soluções nada triviais como a da morte do leão, ocorrida “fora de quadro” e, ao menos até onde a narrativa indica, provocada somente pela impaciência de Koko de ter sua cara seguidamente lambida pelo felino. Dentre os animais que recorrem aos serviços de Koko existe de tudo, de uma ostra a um rinoceronte, sendo que as intervenções que ele e o coelho efetuam são representações literais de termos odontológicos como capa, coroa ou ponte. A determinado momento, impaciente com a repetida ação do leão, ele é quem lambe o focinho do mesmo.  É curioso como aqui o universo mais fantástico que é apresentado de todos, o do consultório frequentado por animais, é algo como “justificado” por se tratar de um sonho, algo que se tornará o próprio cerne de animação da década seguinte, sonoro e a cores. Out of the Inkwell Films para Red Seal Pictures. 9 minutos e 22 segundos.

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