Dicionário Histórico de Cinema Sul-Americano#82: Octubre

 


Octubre (Peru, 2010). O vencedor do Prêmio do Júri na mostra Um Certo Olhar, do Festival de Cannes, Octubre (Outubro), o primeiro longa de Daniel e Diego Vega, tem sido comparado favoravelmente aos filmes de Jim Jarmusch e Aki Kaurismaki (Finlândia) por seu humor impassível e minimalismo. Ainda que cerca de 30 realizadores possam ter sido influenciados por Jarmusch ou Kaurismaki ou ainda por Sånger Från andra Vånigen (Canções do Segundo Andar, 2000), de Roy Andersson que foi, ele próprio, inspirado pelo falecido poeta peruano Cesar Vallejo, Outubro é um filme sul-americano bastante original, apresentando aspectos do centro de Lima, e cotidiano do Peru, nunca antes vistos. 

Clemente (Bruno Odár), penhorista e prestamista, que trabalha no interior de seu monótono apartamento, subitamente tem que se defrontar com um dilema, quando um bebê é posto em sua cama. Ele leva a criança a uma delegacia de polícia, onde fica sabendo que se puser o bebê para adoção, questões sérias lhe serão indagadas. Ele se dá conta de que a criança pode ter nascido de uma prostituta, cujos favores tinha procurado nove meses antes e que tenta, sem sucesso, encontrar. Enquanto isto, uma de suas clientes, uma vizinha, Sofia (Gabriela Velásquez), torna-se uma devotada babá. Como uma devota de "Nosso Senhor dos Milagres" durante o festival religioso de outubro (que dá nome ao título do filme), ela também atua em rituais estranhos, presumidamente para seduzir Clemente a amá-la. Aparentemente desinteressado de qualquer afeto humano, ele entretanto vaga pelas ruas de Lima, no pique do festival, em busca de Sofia. Finalmente, talvez exista uma saída para a solidão e desapego de Clemente. Desafiadoramente antisentimental, Outubro é agraciado com diversos momentos cômicos, e o mais surpreendentemente original no filme peruano é seu estilo visual planimétrico. A fotografia digital de Fernan Chávez-Ferrer revela uma monótona paleta de tons amarronzados, adequando-se pefeitamente ao ambiente, enquanto a insistência em filmar dos ângulos corretos dos Vegas, acoplado ao uso de uma moldura em tela larga, apresentam uma contradição estranha. O ângulo da câmera achata o espaço e dá uma sensação de aprisionamento, mais notavelmente nos planos da mesa de trabalho de Clemente, onde senta de perfil, diante do cliente, com uma parede plana por trás, dominando o enquadramento, enquanto o alcance do enquadrado, amplia a visão, criando um irônico senso de grandeza inatural. Ao longo de todo o filme há uma grande atenção aos detalhes e composições simétricas, enquanto as ruas de Lima são apresentadas de forma decididamente inóspitas e, algumas vezes, francamente feias. 

Após Cannes, Outubro foi exibido em uma série de outros festivais internacionais, incluindo Karlov Vary (República Tcheca), La Rochelle (França), San Sebastián (Espanha), Palm Springs (2011) e Hong Kong (2011). Após ter sido exibido na série Novos Diretores/Novos Filmes, do Museu de Arte Moderna de Nova York, foi adquirido para distribuição pela New Yorker Films.

Texto: Rist, Peter H. The Historical Dictionary of South American Cinema. Plymouth: Rowman & Littlefield, 2014, pp. 429-30,

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