Filme do Dia: Odna (1931), Grigoriy Kozintsev & Leonid Trauberg

 


Odna (URSS, 1931). Direção e Rot. Original: Grigoriy Kozintsev & Leonid Trauberg. Fotografia: Andrei Moskvin. Música: Dmitri Shostakovich. Dir. de arte: Yevgeni Yenej.  Com: Yelena Kuzmina, Pyotr Sobolevsky, Sergei Gerasimov, Mariya Babanova, Van Liu-Sian, Yanina Zheymo, Boris Chirkov, Bari Haydarov.

Yelena Kuzmina (Kuzmina) passa em um concurso para professora e é designada para uma região bem distante de Leningrado, inóspitas montanhas na Sibéria. Inicialmente em dúvida se aceita a proposta, tendo em vista o casamento em vias de ocorrer com seu noivo. Decide que sim. Lá, depara-se com uma realidade completamente outra, numa sociedade ainda fortemente estruturada nos valores patriarcais camponeses.

Se o início do dia de Yelena e os motivos de seu quarto (o despertador) e da configuração espacial da rua, com seus trilhos e transeuntes nos fazem lembrar de imediato o anterior O Homem com a Câmera, ela próxima da câmera  transeuntes desfocados ao fundo, aparentemente flagrados em suas atividades cotidianas, por vezes soam evocativos do uso que Hollywood fará das projeções de fundo com os atores filmados em estúdio. Originalmente mudo, foi lançado em uma versão sonorizada (que é essa, embora tenha sobrevivido incompleta) em que cantos líricos comentam sobre a ação. A geometria da imagem emerge de forma mais ocasional (e espontânea!) que em Eisenstein, embora provavelmente influenciada por esse, seja na forma de escadarias ou de demarcações entre luzes e sombras. Dotado de incontáveis cenas notáveis, como a do suspense criado pela montagem da execução ou não da ovelha ou o momento em que a professora é simplesmente empurrada em sua própria sala pelo local mais influente – de onde se parece apreender o temor quase que da perspectiva do animal, o filme apresenta, mesmo que involuntariamente, uma postura não menos arrogante e insensível ou com pouco tato e diplomacia em relação aos costumes locais. Infelizmente um dos trechos que deve ser mais visualmente instigantes, a ida de trenó até o representante da justiça mais próximo, em uma imensidão desértica gelada, não sobreviveu e o seu desfecho é grandemente comprometido por um final tão irrealista quanto o das produções hollywoodianas que se debruçavam sobre conflitos semelhantes no plano das relações pessoais ou situações-limite; uma comunicação faz com que a história de Kuzmina se torne nacionalmente discutida e, de uma perspectiva plenamente marxista, a tecnologia da aviação é louvada em muito maior monta que propriamente a possibilidade de salvação da heroína. Kuzmina, que vivencia uma personagem de nome idêntico ao seu, é um típico exemplo de personagem feminina a encarnar os ideias de uma nação  em seu momento de fundação como nova ou recriação – caso, por exemplo, de filmes brasileiros a dialogarem com os preceitos estado-novistas, particularmente o caso de Romance Proibido (1944), também envolvendo uma professora que se desloca do centro do saber para regiões em que possa difundir sua palavra civilizatória. Embora a trilha-comentário crítico-lírico seja um dos pontos altos do filme, não é distribuída equanimente pelo filme como um todo. Soyuzkino. 90 minutos. 

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