Filme do Dia: Gosto de Cereja (1997), Abbas Kiarostami
Gosto de Cereja (Ta’m e guilass, Irã, 1997) Direção: Abbas Kiarostami. Rot.Original: Abbas Kiarostami. Fotografia: Homayun Payvar. Montagem: Abbas Kiarostami. Com: Homayon Ershadi, Abdolrahman Bagheri, Afshin Khorshid Bakhtiari, Safar Ali Morad, Mir Hossein Noori.
Baddi (Ershadi), homossexual atormentado por sua condição, decide que a vida não vale mais a pena ser vivida. Seu plano é tomar uma overdose de soníferos e pedir que alguém vá no dia seguinte no local combinado - um buraco em uma região afastada da cidade - ver como se encontra. Caso apresente sinais de vida, deve ser retirado e socorrido. Caso não, quer que a pessoa coloque areia sobre seu cadáver. A primeira pessoa que escolhe para fazer o “serviço”, como chama, é um jovem que presta serviço militar, que acaba abandonando o carro, assustado com a proposta. Posteriormente a mesma proposta é feita a um seminarista (Noori) afegão, que diz ser contra a sua religião auxiliar alguém a pôr fim a própria vida e ao Sr. Baghi (Bagheri), taxidermista que, embora contra sua vontade, afirma que pode realizar o que Baddi lhe pede, não sem antes afirmar que ele uma vez pensara em suicidar-se, mas que desistira ao provar o gosto de uma cereja e quando avistara o sol sumindo no horizonte. Baddi vai ao trabalho do Sr. Baghi para confirmar tudo com ele e o deixa em sua casa. Como recompensa ele deixa todo seu dinheiro, que se encontra no carro. Aprecia o pôr-do-sol no horizonte. Vai para casa, toma todas suas pílulas e se posicionar no local combinado. Uma chuva inicia. No dia seguinte, soldados do exército fazem manobras próximo, enquanto Kiarostami dá indicações de cena para Ershadi.
Fiel ao seu estilo, Kiarostami realizou mais um filme profundamente pessoal, com todas as características de seus filmes: a repetição de motivos quase ritualística (Baddi sempre aborda alguém, leva ao local escolhido e explica a situação) e de falas (muitas vezes as pessoas não entendem o que Baddi fala e este repete suas falas, assim como o oposto),e uma estética que explora a continuidade do espaço (com uma infinidade de tomadas filmadas do ângulo do motorista de carro como Através das Oliveiras ou Um Instante de Inocência, de Makmalbaf), que o aproximam de um realismo próximo do pretendido por André Bazin; assim como a reflexão entre a relação do cinema com a realidade também à nível metalinguístico, com a seqüência final em que se desmascara o que há por trás dessa pretensa realidade e o filme se apresenta claramente como filme, aqui distanciando-se do que Bazin pretendia. Os diálogos também pretendem ser os mais coloquiais e realistas possíveis, com momentos de humor e fina ironia, ainda que o filme não se encontre à altura de Através das Oliveiras. Palma de Ouro no Festival de Cannes, dividida com A Enguia, de Imamura. Ciby 2000/Abbas Kiarostami Productions. 95 minutos.
Postada originalmente em 14/03/2015
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