Filme do Dia: Certo Agora, Errado Antes (2015), Hong Sang-soo
Certo Agora, Errado Antes (Ji-Geum-Eun-Mat-Go-Geu-Ddae-Neun-Teul-Li-Da,
Coréia do Sul, 2015). Direção e Rot. Original: Hong Sang-soo. Fotografia: Park
Hong-yeol. Música: Jeong Yong-jin. Com: Jeong Jae-yeong, Kim Min-hee, Youn Yuh
Jung, Gi Ju-bong, Choi hwa-jeong, Yoo Joon-Sang, Seo Young-hwa, Ko Asung.
O diretor de cinema Ham Cheon-soo
(Jae-yeong) chega um dia antes da exibição de um filme seu em meio a uma mostra
que lhe é dedicada e se encanta pela bela jovem que conhece perambulando, como
ele, Yoon he-jeong (Min-Hee). Ele a convida a um café. E ela a conhecer o seu ateliê e, depois, sair com
uns amigos dela. Eles bebem demasiado, mas Yoon volta para casa e sua mãe ralha
com ela por voltar mais uma vez alcoolizada. Ham encontra um atraente garota e
ela lhe convida a um café...
Sang-soo reapresenta a mesma
narrativa, com variações, algumas discretas, outras bem mais evidentes, numa
postura discretamente formalista, ao contrário das experimentações com a narrativa
de um Resnais (Smoking/No Smoking,
por exemplo). Aqui, menos que imediatamente se pensar na estrutura do que é
contado, como em Resnais, talvez se imagine um certo que de aleatoriedade que a
fala e os gestos podem induzir, também presente no cerne da obra do realizador
francês, mas mais explicitamente orquestrado como uma intervenção autoral. O
fato de apresentar personagens envolvidos com o mundo do cinema, como aqui,
encontram-se distante de serem novidade na prolífica carreira do realizador (O Dia em que Ele Chegar, Conto de Cinema, ou ainda mais
aparentado com esse, You Don’t Even Know).
Se o nível de aleatoriedade com que o realizador lida com as situações soa
muitas vezes imaturo e demasiado embebido de cultura cinéfila – o que não é o
caso dessa produção especificamente – sobretudo francesa, a Nouvelle Vague como
possível referência – para ser verdadeiramente interessante, Sang-soo consegue
elaborar magistrais planos-sequencias em que por vezes a câmera passeia com
elegância de Ham para Yoon, deixando de lado as facilidades do
plano/contraplano, por vezes permanecendo
primordialmente fixa, fazendo também uso original do zoom, tal virtuosidade serve como esteio para que seus atores
consigam desenvolver suas interpretações com o brilho da espontaneidade que era
uma característica habitualmente elogiada na produção francesa admirada pelo
realizador; A Câmera de Claire é uma
evidente referência a O Joelho de Claire,
de Rohmer. Infelizmente, tal brilho é parcialmente atenuado pela mediação
excessiva da consciência constante de uma implícita história do cinema sempre
latente, em detrimento da crença no enfrentamento com os dramas e alegrias
vividos por seus personagens. Tanta energia é posta na encenação e no trato com
os atores, que pouco parece sobrar para o que talvez de fato deveria importar
em seus filmes, o desenvolvimento das personagens. Como demarcador de sua
presença enquanto autor, o filme apresenta um estilo visual já reconhecível de
outras produções (You Don’t Even Know),
temas e influências afins, como a de Truffaut e aqui, mais discretamente,
Buñuel, com o inusitado emergindo das situações mais banais do cotidiano, caso
do momento em que Ham se despe diante das duas amigas de seu objeto do desejo.
Ao contrário desse, no entanto, tais situações inusitadas nunca se apresentam
carregadas de um viés alegórico. Como os realizadores da Nouvelle Vague,
igualmente, Sang-soo é pródigo em apresentar referências visuais a outros
filmes, porém invariavelmente os seus próprios. Na segunda parte de seu
díptico, embora exista momentos de destempero ausentes da primeira, há
igualmente um maior vislumbre de romantismo e inclusive de toque entre os dois
personagens principais que na primeira. Jeonwonsa Film. 120 minutos.
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