Filme do Dia: Corrida Sem Fim (1971), Monte Hellman

 


Corrida Sem Fim (Two-Lane Blacktop, EUA, 1971). Direção: Monte Hellman. Rot. Original: Rudy Wurlitzer, Will Corry & Floyd Mutrux, a partir do argumento de Corry. Fotografia: Jack Dearson & Gregory Sandor. Montagem: Monte Hellman. Figurinos: Richard Bruno. Com: James Taylor, Warren Oates, Laurie Bird, Dennis Wilson, Harry Dean Stanton, Jacklyn Hellman.

Dois homens viajam pelas estradas americanas em busca de dinheiro e diversão. Dinheiro e diversão com corridas. Um deles dirige (Taylor) e o outro é mecânico (Wilson). Junta-se a eles uma caronista insatisfeita (Bird). No meio da estrada topam com um homem turrão (Oates), que os provoca para uma aposta  sobre quem chegará primeiro até Washington.

Esse, talvez acertadamente o mais cultuado filme do cineasta, despoja-se de qualquer firula sentimental ou composição psicológica. Para tanto, o fato de lidar em boa parte com não atores praticamente em  “não desempenhos” (Taylor em seu único filme, assim como Wilson) ou atores francamente fracos (caso de Bird) menos depõe contra que finda se somando à proposta em questão, um tanto bressoniana, lidando sobretudo com tempos mortos e construindo tensões apenas para posteriormente esvaziá-las – como é o caso da inicial entre o personagem de Oates e os jovens; todos os personagens, aliás, sequer são nomeados. Destituído tampouco de trilha sonora ou diálogos dramáticos,  segue o processo no qual se encontram envoltos seus personagens no momento sem cair nunca no risco de psicologizá-los – de forma quase didática, por exemplo, o personagem de Wilson afirma que não quer escutar a cantilena sobre a decadência e solidão do vivido por Oates.  De forma ainda bem mais radical que Sem Destino não há exatamente um propósito em seus deslocamentos, como se subliminarmente Hellman se apropriasse de tal atitude presente no universo dos filmes “B” de Corman, dos quais foi um intenso colaborador (como é o caso de Anjos Selvagens), livrando-se do sensacionalismo e de quase tudo que rescenda a espetáculo – as corridas em si são praticamente ignoradas, as situações de tensão na estrada (presentes em outros filmes célebres de estrada da década como Encurralado, O Comboio do Medo e Comboio) idem. O final simula a desintegração da película cinematográfica, permanecendo mais ativamente em aberto, inclusive, que a maior parte das obras modernistas europeias. Tal como em O Último Filme, produção do mesmo  ano de Hopper, ouve-se Me and Bobby McGee (Kristofferson havia sido a primeira escolha de Hellman para o papel do motorista). National Film Registry em 2012. Michael Laughlin Enterprises/Universal Pictures para Universal Pictures. 102 minutos.

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