Filme do Dia: A Ilusão Viaja de Bonde (1954), Luís Buñuel

 


A Ilusão Viaja de Bonde (La Ilusión Viaja en Tranvía, México, 1954). Direção: Luís Buñuel. Rot. Original: Luís Alcoriza, Juan de la Cabada, José Revueltas & Mauricio de la Serna. Fotografia: Raúl Martínez Solares. Música: Luis Hernández Breton. Montagem: Jorge Bustos & Luis Buñuel. Dir. de arte: Edward Fitzgerald. Cenografia: José G. Jara. Com: Lilia Prado, Carlos Navarro, Fernando Soto, Agustín Isunza, Miguel Manzano, Guillermo Bravo Sosa, José Pidal, Felipe Montoya.

Tarrajas (Navarro) e Juan (Soto) são dois trabalhadores dos transportes públicos que decidem realizar uma última viagem com o velho bonde 133, prestes a ser aposentado. Une-se aos dois, a jovem Lupita (Prado), amor de Juan. Sem cobrar nada, eles realizam um longo périplo pela Cidade do México, carregando as mais diversas espécies de passageiros como miseráveis, crianças que vão a uma atividade extra-escolar e um grupo de passageiros da classe média que sente-se ofendido com a proposta da dupla para que os passageiros não paguem a viagem. Dentro desse grupo se encontra o velho Papa Pinillos (Isunza), que acredita que eles são impostores e pretende, a todo custo, desmascara-los junto aos funcionários da companhia de transportes. Porém, suas declarações nunca acabam sendo levadas à sério e, ao final, quando busca a confirmação de sua tese é mais uma vez surpreendido.

Essa comédia menor de Buñuel, ainda assim possui momentos de pura inspiração, como a apresentação de números do teatro de revista e, mais que todas, o momento em que o mocinho passa a mão sobre o rosto da heroína - numa cena tipicamente hollywoodiana, que logo após se configura com a mesma verve anárquica do cineasta – e termina por suja-lo, involuntariamente, de graxa. Contendo um prólogo com narração documental sobre a Cidade do México (semelhante ao de Os Esquecidos) que não só situa a ação dos personagens dentro do mecanismo social mais amplo que é a cidade grande como discorre sobre a própria narrativa do filme, finda afirmando com sutil ironia sobre como a aventura dos três amigos somente será lembrada por longo tempo por eles próprios, já que para qualquer outra pessoa soaria demasiadamente banal. A obsessiva vigilância moral do personagem de Pinillos é semelhante ao que personagem mais caricato e cômico de Antonio efetivará em Boccaccio’70, podendo ser vista como extrapolação de uma certa ranzinice com que são caracterizados os tipos da classe média em contraposição a visão bem mais simpática com que são apreciados os populares.  90 minutos.

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