Filme do Dia: Um Amor em Cada Vida (1945), William Dieterle

 


Um Amor em Cada Vida (Love Letters, EUA, 1945). Direção: William Dieterle. Rot. Adaptado: Ayan Rand, baseado no romance de Christopher Massie, Pity My Simplicity. Fotografia: Lee Garmes. Música: Victor Young. Montagem: Anne Bauchens. Dir. de Arte: Roland Anderson & Hans Dreier. Cenografia: Ray Moyer. Figurinos: Edith Head. Com: Joseph Cotten, Jennifer Jones, Ann Richards, Cecil Kellaway, Gladys Cooper, Anita Louise, Robert Sully, Reginald Denny

Allen Quinton (Cotton) escreve a um amigo do exército, Roger (Sully) cartas de amor para Victoria (Jones). Ela apaixona-se perdidamente pelo homem dessas cartas. Quando se une posteriormente a Roger, não o reconhece como aquele que escrevera tais cartas. É um homem bruto que, num acesso de ira, queima as cartas com ciúmes e a agride sendo assassinado, Victoria acredita que por ela, após confessar que não escrevera tais cartas. Victoria ficou amnésica após o crime, e é conhecida como Singleton. Ela se casa com Allen. Aos poucos, no entanto, lapsos de memória voltam a surgir e o quebra-cabeça se completa quando ela volta a casa onde o crime ocorrera.

Produzido no auge dos filmes que fazem uso de atmosfera sombria e de menção a psicanálise que, na realidade, estava sendo mais utilizada para os soldados que retornavam da guerra como Allen que propriamente para suas esposas, como confirma o célebre documentário de Huston. Tal como em várias dessas produções (incluindo Quando Fala o Coração,de Hitchcock, produzido no mesmo ano), é imperativo que o trauma seja superado e a lembrança que o provocou desrecalcada, por alguma ação ou situação evocativa dessa. Aqui, essa se dá quando  Victoria/Singleton se posiciona da mesma maneira que no momento do crime. Se a motivação do mesmo é algo não exatamente verossímil, para que o final feliz não sofra arestas, mais importante e menos convencional é a antecipação de figuras duplicadas de uma mesma mulher que se tornam evocativas de obras como Um Corpo que Cai (1958), de Hitchcock. Como  em A Sombra de uma Dúvida, não faltam diálogos de uma intensidade pouco habitual para a época, como o que Singleton afirma acreditar que “muitas poucas pessoas são felizes. Elas esperam por todas suas vidas que algo aconteça – algo grande e maravilhoso. Algumas vezes nunca acontece.”  A melodia de Young praticamente se encontra presente do início ao final, criando uma verdadeira barreira sonora que, no entanto, auxilia na criação de uma atmosfera algo hipnótica e, nesse sentido, próxima do uso que Albert Lewin lhe proporcionou em tramas ainda mais rocambolescas tais como Pandora (1951). Conta, além de tudo,  com a presença de elegantes movimentos de câmera, soturna cenografia estrategicamente deslocada para a Inglaterra como de costume e a mesma dupla emprestada por Selznick que viverá um segundo filme também centrado em um amour fou,  O Retrato de Jennie, de três anos após.  Entre os dois Selznick o convidaria para concluir o extravagante Duelo ao Sol, também com Jones. Dieterle mesclava propostas em que seu estilo se fazia mais presente, como aqui, com filmes sem grande compromisso artístico, que habitualmente eram os mais reconhecidos pela Academia de Hollywood. Nem precisa dizer que o título brasileiro é inadequado, já que como a própria protagonista afirma em mais de um momento não ama o homem que casara. Paramount Pictures. 101 minutos.

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