Filme do Dia: A Garota do Pântano (1917), Victor Sjöström
A Garota do Pântano (Tösen fran Stormytorpet, Suécia, 1917).
Direção: Victor Sjöström. Rot. Adaptado: Victor Sjöstrôm & Ester Julin, a
partir do romance de Selma Lagerlöf. Fotografia: Henrik Jaenzon. Dir. de arte:
Axel Esbensen. Com: Greta Almroth, Lars Hanson, Nils Aréhn, Josua Bengston,
Georg Blomstedt, Thekla Borg, Göst Cederlund,
William Larsson, Karin Molander, Concordia Selander.
Helga é mãe de
uma criança que não foi assumida pelo pai, um homem mais velho. O pai de Helga,
ao observar a recusa do mesmo, afirmando não ser o pai da criança em sua casa,
leva-o ao tribunal. No julgamento, quando o homem se dispõe a jurar sobre a
bíblia, Helga retira a queixa porque não pretende que ele cometa o perjúrio,
que considera um pecado mortal. Atormentada por sua situação, considerada como
pária na comunidade, apesar de seu gesto nobre ter impressionado o juiz
(Aréhn), Helga é convidada para trabalhar na residência de Gudmund (Hanson),
por sugestão da mãe (Selander) desse. Tudo vai bem, até que a noiva de Gudmund,
Hildur (Molander) e sua família façam uma visita à família do noivo. Quando
percebem que Helga lá trabalha, Hildur afirma que só retornará a casa caso
Helga não mais se encontre. A contragosto, Helga é demitida, mesmo sendo
mantida pela mãe de Gudmund. Gudmund, pouco entusiasmado com a noiva, faz uma
visita a cidade e lá se embebeda pela primeira vez na vida, fazendo arruaças.
Posteriormente, um homem é encontrado morto, vítima de uma canivete. Gudmund
possui um canivete e acredita ser ele o criminoso. No dia da celebração de suas
bodas com Hildur, ele resolve afirmar que se acredita assassino e a festa é
cancelada. Ele tenta uma aproximação com Helga, que o refuta. Helga se aproxima
de Hildur e afirma saber que ele é inocente. Ela lhe aconselha a não dizer que
fora ela que lhe contara tudo. Hildur vai ao encontro de Gudmund mas não
consegue levar adiante a farsa, contando-lhe a verdade. Gudmund corre para os
braços de Helga.
Talvez nenhuma
cena explore melhor os conflitos da moralidade provinciana com a espontaneidade
dos sentimentos que o de Helga chorando desesperada e sendo surpreendida por
seu – presume-se – futuro amado, que a convida para trabalhar em sua
residência, e ela reage o abraçando efusivamente, para constrangimento
inicialmente dele e depois igualmente dela, que rapidamente troca o cumprimento
por um bem mais distanciado aperto de mãos. Porém, nesse momento do abraço o
que a faz refrear seu impulso é justamente o alisar de seus cabelos por ele. De
forma mais discreta que em alguns de seus outros filmes, aqui se observa a
instabilidade emocional com que Helga observa a família de Hildur abandonar a
residência de seu noivo por sua conta não apenas por seu olhar, mas igualmente
pelo vento que faz balançar boa parte dos elementos em cena. Existem momentos
de puro brilho em termos de composição de cena, como o que Gudmund adentra
tenso a cozinha para chamar Helga a falar com a mãe sobre a necessidade de sua
saída. A movimentação dos atores e a disposição dos elementos em cena é não
menos que primorosa. A mãe é sempre observada, em sua poltrona, a partir de
um ângulo similar, mesmo que a abertura do plano varie. Se a interpretação de
Almroth é demasiado cifrada nos códigos do melodrama, mesmo que sem gestos
demasiado grandiloquentes, pois estes já caíam em desuso a não ser por
motivações específicas (caso do Expressionismo Alemão), a de Hanson parece
traduzir ocasionalmente um nível de interioridade um tanto incomum aos seus
contemporâneos; paradoxalmente, no entanto, é também quem protagoniza os dois
momentos mais patéticos do filme, quando fica sabendo que Helga aconselhara
Hildur a voltar para ele e, principalmente, quando cai em soluços no peito do
pai. Faz uso do flashback, recurso
até então pouco usado, como elemento desvelador da verdade. De forma não tão
distinta dos filmes da década seguinte de Mauro, as classes econômicas de
estrato inferior na pirâmide social são associada com uma violência que lhe
parece intrínseca, como é o caso do conflito de ralas motivações que deixa uma
vítima. Destaque para o paralelismo de
Helga e Gudmund, a determinado momento,
como párias sociais, que logo será desfeito, principalmente da parte dele. Já a
auto-sacrificada abnegação feminina, motivo que continuará solidamente por
décadas no melodrama, é aqui observado em dose dupla. Assim como para o
perverso silêncio de Helga em relação à inocência de seu amado. Drama em cinco
atos baseado não em um peça, mas num romance. Sua versão original teria 87
minutos. Svenska Biografteatern. 73 minutos.
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