Filme do Dia: A Grande Dama do Cinema (2019), Juan José Campanella

 


A Grande Dama do Cinema (El Cuento de las Comadrejas, Argentina/Espanha, 2019). Direção: Juan José Campanella. Rot. Adaptado: Juan José Campanella & Darren Kloomok. Fotografia: Félix Monti. Música: Emilio Kauderer. Dir. de arte: Nelson Noel Lutti. Figurinos: Cecilia Monti.  Com: Graciela Borges, Oscar Martínez, Luis Brandoni, Marcos Mundstock, Clara Lago, Nicolás Francella, Maru Zapata.

Estrela do cinema em ocaso há um tempo considerável, Mara Ordaz (Borges) vive com seu marido, o ator Pedro de Córdova (Brandoni), que nunca teve o mesmo destaque que ela, um ex-marido, Norberto Imbert (Martínez) e o roteirista de boa parte de seus filmes (Mundstock) em um casarão decadente, infestado de ratos e outros roedores de maior porte. Certo dia, chega a residência, buscando aparentemente um local para efetuar ligações a dupla Bárbara (Lago) e Francisco (Francella), que apenas utilizaram, como logo os três homens percebem, tal truque como subtefúrgio para se aproximar da estrela com fito de lhe aplicar golpe financeiro visando sua residência e a grande propriedade na qual se encontra situada. Eles descobrem que se trata de um casal, e mais inescrupuloso do que imaginavam. Porém, não se dão por vencidos, quando se encontram em vias de ser despejados da casa em que vivem há quatro décadas.

Prejudicado de sobremaneira por sua sempre constante referência da duplicidade entre vida e cinema, transformada em efeito fácil, assim como por sua excessiva dependência dos diálogos pretensamente mordazes em detrimento de uma visualidade mais evocativa de qual seja o período que venha a descrever do cinema argentino – nesse quesito, o brasileiro A Dama do Cine Shangai é, de longe, um tributo-paródia mais bem resolvido. Em vários momentos dialogando com Crepúsculo dos Deuses, inclusive no excesso visual que consiste o quarto da Mara de Borges, figura a qual o filme certamente presta um tributo menos ambíguo. Porém, mesmo essa carinhosa homenagem a um dos maiores nomes femininos da cinematografia argentina – atuando desde o final dos anos 1950 – que rende momentos inspirados, como o que o rosto projetado de uma Borges jovem e bela ganha vida na sua marcada face do momento em que o filme foi produzido, surge como uma cena de efeito sem maiores funções dramáticas. Da mesma forma, pior que o maniqueísmo que contrapõe uma juventude demasiado pragmática e pouco afeita às amizades e aos sentimentos aos velhos que, apesar de certas reservas éticas, podem ainda ser piores são as intepretações demasiado canhestras do casal jovem. No mais, a ausência de ritmo, potencializada pela metragem excessiva, transforma bons momentos, evocativos das comédias mais inteligentes dos estúdios Ealing britânicos, em não mais que isso. E algumas cenas são excessivamente forçosas, como a morte acidental de duas garotas pela queda da estatueta que representa um prêmio cinematográfico bem similar ao Oscar, e que tampouco provoca o riso espontâneo. Versão de um filme argentino lançado em 1976. 100 Bares/INCAA/JEMPSA/Telefe/Tornasol Films. 129 minutos.

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