Filme do Dia: Táxi Teerã (2015), Jafar Panahi
Táxi Teerã (Taxi, Irã, 2015). Direção,
Rot. Original, Fotografia e Montagem: Jafar Panahi. Com: Jafar Panahi.
Sim, é um filme sobre como se fazer um
filme mesmo sendo legalmente proibido em seu próprio país. Sim, se trata,
portanto, de um filme de resistência. Sim, Panahi possui carisma ao interpretar
a si mesmo. Sim, o filme volta a refletir sobre os limites entre a realidade e
ficção tal como algumas das melhores produções de Panahi e Kiarostami, no auge
do clamor internacional pelo cinema iraniano. No entanto, até que o tempo prove
em contrário, trata-se de uma obra menor de um realizador que há vários anos se
encontra em situação de prisão domiciliar, produzindo e distribuindo à revelia
do governo iraniano seus filmes. Inicialmente surgindo como uma proposta, que
demonstrou ser inviável, de documentário, transformou-se em uma ficção daquelas
que brincam de serem reais e ao mesmo tempo de se apresentarem enquanto filmes,
tal como uma das produções mais bem sucedidas do realizador (O Espelho), que vem a ser mencionado
pela “sobrinha” do realizador, que se compara à garota do filme na situação de
abandonar a filmagem. Existe ainda um vendedor de cópias em dvd piratas de
produções norte-americanas assim como do cinema de arte internacional, ao qual
Panahi não reconhece de imediato, e que afirma que lhe vendera filmes como Meia-Noite em Paris de Woody Allen e
que a presença do realizador lhe ajudou a vender mais filmes para um cliente
estudante de cinema. Ou um tipo rude que discute com uma professora sobre a
necessidade de se aplicar a pena de morte aos que haviam assaltado um parente
seu. Um homem atropelado que pede para que gravem seu “testamento” em um câmera
de celular. Duas senhoras bastante agitadas com a possibilidade de não chegarem
a tempo para depositarem três peixinhos e capturarem outros em um determinado local
da cidade, o que significaria para elas vida ou morte. E um ex-vizinho de
Panahi que afirma ter sido espancado por dois jovens e, inclusive, apresenta-lhe
imagens do episódio, mas que evita denunciá-los temendo, ao menos em sua
narrativa, que venham a ser enforcados. E ainda a simpática vendedora de rosas,
que dedica uma delas ao pessoal do cinema ao se despedir. E sua própria
sobrinha, que reproduz o que a professora lhe afirmara sobre o que não deveria
entrar em um filme, sendo um dos pontos o “realismo sórdido”. É uma produção
que se equilibra entre a delicadeza e a brutalidade cotidiana talvez de
qualquer grande cidade do mundo, mais que de qualquer peculiaridade do fechado
regime iraniano, embora as marcas desse sejam evidenciadas explícita ou obliquamente
a todo momento. O resultado final, no entanto, parece retroceder em relação às
produções de décadas atrás da filmografia do país e, pior que isso, soam por
vezes demasiado esquemáticas ou forçosas, como é o caso sobretudo da discussão
inicial entre a professora e o homem que afirma ser ladrão. Não há como não
evocar a onipresença do carro de filmes de Kiarostami (Gosto de Cereja, Dez),
sendo bem mais flexível que o dispositivo auto-imposto por Kiarostami em Dez, em termos de captação de imagem e
também autocondescedência. Talvez o retrato
mais agudo da opressão sobre a espirituosidade que teima em se manifestar como
resistência (como em seu Isto Não é um
Filme), mas que igualmente por demasiado excessiva soe em falso, seja a
ausência de créditos do filme, para não comprometer qualquer colaborador do
mesmo. Urso de Ouro em Berlim. Jafar Panahi Film Prod. 81 minutos.
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