Filme do Dia: Madame de Thèbes (1915), Mauritz Stiller

 


Madame de Thèbes (Suéca, 1915). Direção: Mauritz Stiller. Rot. Original: Martin JØrgensen & Louis Levy. Fotografia: Julius Jaenzon. Com: Nikolai Johannsen, , Regna Wettergreen, Märta Halldén, Karin Molander, John Ekman,  William Larsson, Albin Lavén,  Doris Nelson.

A cigana Ayla (Nelson) é expulsa de seu grupo por ter tido um filho ilegítimo. Ela é acolhida pela Condessa Julie (Halldén), que percebe a morte do filho, ainda bebê igualmente e, desesperada, apossa-se do filho da cigana, afirmando que quem morrera fora o filho dessa. 35 anos depois. Seu filho, Robert (Johannsen), é uma importante liderança política, próxima de ser guindado ao cargo de Ministro das Relações Exteriores. Seu rival político, o barão von Volmar (Lavén), aconselha-se com uma vidente, conhecida como Madame de Thèbes (Wettergreen), que vem a ser ninguém menos que a cigana Ayla do passado. Um criado de Robert, Max (Larrson) lhe entrega as informações sobre a carta que Julie escreveu em seu leito de morte, identificando a verdadeira mãe dele. Robert, que ajudara a filha de Von Valmar, Louise (Molander), quando essa foi vítima de um assalto, conta com a ajuda dessa para saber da artimanha que se prepara contra ele, e Robert lhe beija, iniciando uma relação amorosa. De fato, uma ação policial torna Madame de Thèbes prisioneira, porém em uma visita à prisão, Louise troca de lugar com essa, que comparece a sessão plenária onde Robert vem a ser acusado por Von Valmar, de ser filho de uma cigana, provocando grande tumulto. Das galerias, Thèbes afirma que Robert não é seu filho, desmaiando logo após. Quando Robert a visita, ela morre em seus braços, deixando entrever o medalhão de sua mãe adotiva.

Faz-se uso, algo incomum, de cartelas que reproduzem algo que já foi lido por algum personagem (e também pelo espectador), buscando intensificação dramática das cenas, nessa produção que inicia auspiciosa, mas rapidamente abraça, de forma demasiado incisiva e sem filtros, estratagemas melodramáticos, que vão do inescapável medalhão à troca de filhos. Não falta, para completar a cena, um valete traidor. Quando se espera que as imagens em movimento sejam projetadas no suntuoso salão em que a cigana atende, algo que já encontra presente desde o Primeiro Cinema, da associação de imagens similares ou idênticas ao cinema como visionárias, o que ocorre é uma atualização tecnológica da tradicional técnica cigana da leitura de mãos. E supera-se no número de cômodas e inverossímeis coincidências – que a mãe de Robert aconselhe seu rival político; que o seu criado entregue informações a esse (essa, talvez um pouco mais desculpável, já que se trata do mundo das intrigas políticas) e que Louise seja socorrida por ninguém menos que o próprio Robert; e que o filho da Condessa morra justamente com a chegada de um novo bebê à propriedade. No caso dessa última coincidência, ela vem a compor um duplo cruzamento de pólos opostos, o criado entregando informação de um lado, e a filha do outro, para seus respectivos rivais. Impagável é o olhar de comoção maternal que surge a partir de outra coincidência, quando Robert beija Louise de um impulso só. As personagens ciganas eram quase sempre tratadas de forma bastante preconceituosa pelo cinema de então (que o diga a estreia de Griffith no cinema, As Aventuras de Dollie, de sete anos antes, dentre vários); aqui, curiosamente, quem se apossa do filho alheio não é a cigana, mas a aristocrata, invertendo a lógica habitual e a própria mística vinculada aos ciganos. Disposto em um prólogo e três atos.   Para preencher lacunas de sua metragem original de vinte minutos a mais, alguns stills de cenas são inseridas, como prática habitual em situações do tipo. A verdadeira Madame de Thèbes, francesa, morreria no ano seguinte ao lançamento desse filme.  Svenska Biografteatern. 48 minutos.

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