Filme do Dia: Na Idade da Inocência (1976), François Truffaut
Na Idade da Inocência (L´Argent de Poche, França, 1976).
Direção: François Truffaut. Rot. Original: François Truffaut & Suzanne
Schiffman. Fotografia: Pierre-William Glenn. Montagem: Yann Dedet. Dir. de arte:
Jean-Pierre Kohut-Svelko. Figurinos: Monique Dury. Com: Nicole Félix, Chantal
Mercier, Jean-François Stévenin, Virginie Thévenet, Tania Torens, René
Barnerias, Katy Carayon, Francis Devlaeminck, Richard Golfier, Philippe
Goldman, Eva Truffaut, Sebastien Marc, Grégory, Laurent Devlaeminck, Claudio De
Luca, Frank De Luca, Sylvie Grezel, Pascale Bruchon.
No verão de 1976, na pequena Thiers, o
cotidiano de um grupo de alunos e seus professores. Nadine Riffle (Torrens), a
cabeleleira, desperta a paixão do garoto Patrick (Desmonceaux), os irmãos
Mathieu (Claudio De Luca) e Frank De Luca (Frank De Luca), ficam com o
dinheiro que era reservado para o corte do cabelo de um de seus coleguinhas e
cortam seu cabelo de qualquer forma. O Professor Jean-François (Stévenin) sai
de sua habitual tranqüilidade quando sua esposa se aproxima de ter um filho. A
mãe (Félix) de Gregory (Grégory) desmaia ao observar seu filho cair da janela
do apartamento e se levantar incólume. Julien Leclou (Goldman), de família pobre,
vive cometendo pequenos furtos e sendo castigado na escola até o dia em que, no
exame médico, descobre-se que seu corpo se encontra cheio das marcas de
sevícias feitas por sua mãe e avó, provocando a prisão de ambas e a ida do
garoto para uma instituição de abrigo para crianças órfãs. A voluntariosa
Sylvie (Grezel), decide não acompanhar os pais, quando estes saem para jantar
fora, e através do megafone avisa para todos no prédio onde moram que está com
fome. Patrick, após uma experiência frustrada no cinema, consegue o primeiro
beijo com uma prima, Martine (Bruchon),
na colônia de férias da escola.
Truffaut transfere sua lírica do
cotidiano francês para um grupo de pré-adolescentes e o resultado final, mesmo
que longe de ser uma das obras maiores do cineastas, está repleto dos pequenos
achados e do humor sutil característicos do cineasta, ainda que muito longe da
intensidade da primeira abordagem sobre a temática da infância em seu Os Incompreendidos e mais próximo da
versão mais suave e conforme os padrões estabelecidos de sua produção
posterior. Certamente perde-se em vivacidade e ganha-se em flertes com o
espectador, que acaba seduzido por esse retrato da vida provinciana francesa
que consegue não apenas uma invulgar interpretação de seus atores mirins
amadores como uma bem dosada mescla entre a tão alentada inocência infantil e
sua não menos presente perversidade. Embora o personagem de Leclou possua
traços visivelmente inspirados na própria biografia do cineasta, sendo nesse
sentido herdeiro do Doinel vivido por Léaud em vários filmes de Truffaut,
tampouco se pode deixar de perceber a presença do alter-ego mais ou menos difuso em
vários outros momentos, como no discurso exaltado do professor contra a
violência infantil para sua platéia dispersa e, finalmente, atenta. Por outro
lado, Leclou soa a estilização da estilização, perdendo a densidade que o
personagem vivido no primeiro filme do cineasta possuía, substituído por sua
versão mais assumidamente “literário-cinematográfica” sendo um bom paradigma
para o próprio filme. Em certa seqüência, Truffaut realiza sua vingança contra
os austeros e impessoais cinejornais Pathé que assistiu em sua juventude,
recriando-a sob uma chave totalmente erotizada e reveladora da hipocrisia moral
dos mesmos. Prêmio OCIC no Festival de Berlim. Les Films du Carrosse. 104
minutos.
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