Filme do Dia: Camelos Também Choram (2003), Byambarusen Davaa & Luigi Forloni

 


Camelos Também Choram (Die Greschite Von Weineden Kamel, Alemanha/Mongólia, 2003). Direção: Byambasuren Davaa e Luigi Falorni. Rot. Original: Byambasuren Davaa, Batbayar Davgadorj e Lugi Falorni Fotografia: Luigi Falorni. Montagem: Anja Pohl. Cenografia: Mendbayar Pol. Figurinos: Unorjargal Amgaabazar.  Com: Janchiv Ayurzana, Chimed Ohin, Amgaaabazar Gonson, Zeveljamz Nyan, Ikhbayar Amgaabazar, Odgerel Ayusch, Enkhbulgan Ikhbayar.

Família criadora de cabras e camelos no deserto de Gobi, Mongólia depara-se com a situação de uma camela que após os sofridos trabalhos de parto rejeita o filhote. Após inúmeras tentativas frustradas, os dois filhos do casal vão até a comunidade mais próxima procurar um músico que deverá executar um ritual tradicional para que ocorra a conciliação entre mãe e filho. Ritual que acaba sendo bem sucedido.

Embora tenha sido classificado como documentário, talvez essa produção se encontre na fronteira entre documentário e ficção. Construindo personagens ficcionais a partir de moradores locais que vivem situações bem semelhantes, tal qual um dos mais celébres documentários de Rouch,  Jaguar, sua etnoficção, para utilizar uma terminologia criada pelo último tem os traços ficcionais ainda mais acentuados pela quase completa subordinação dos “atores” à regra de não se olhar para a câmera, prática extrapolada inclusive para o entorno com que os personagens se relacionam, assim como pela utilização de uma fotografia mais próxima de uma fantasia poética que do realismo da imagem mais crua associada ao documentarismo e por uma estrutura narrativa quase completamente vinculada a um enredo muito bem delineado. De qualquer forma, menos importa seu estatuto de ficção ou documentário, que sua envolvente e bem realizada representação de um mundo tradicional que observa suas novas gerações sentirem-se cada vez mais atraídas pela tecnologia – o fascínio do pequeno Ugna pela televisão e pelos jogos eletrônicos em contraposição ao seu avô, que acredita que será um perigo ele passar horas diante da “realidade de vidro”. Tal representação, no entanto, encontra-se, em certa medida, nitidamente marcada pelo mesmo olhar etnocêntrico e disposto a exarcebar o que há de folclórico em uma comunidade relativamente distante dos valores ocidentais quanto a seu tempo esteve Nanook, o Esquimó (1922), de Flaherty. Nesse sentido, nenhuma dimensão de conflito perpassa o grupo retratado, que parecem ser uma encarnação tão idealista, humana e fantasiosa do “bom selvagem” quanto os personagens retratados por Flaherty. HFF/BR. 90 minutos.

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