Filme do Dia: Em um Mundo Melhor (2010), Susanne Bier

 


Em um Mundo Melhor (Hӕvnen, Suécia/Dinamarca, 2010). Direção: Susanne Bier. Rot. Original: Anders Thomas Jensen & Per Nielsen, a partir do argumento de Jensen & Susanne Bier. Fotografia: Morten Sᴓborg. Música: Johan Söderqvist. Montagem: Pernille Bech Christensen & Morten Egholm. Dir. de arte: Peter Grant & Naia Barrenechea.  Cenografia: Lene Ejlersen & Mathias Holmgreen. Figurinos: Manon Rasmussen. Com: William Jᴓhnk Nielsen, Markus Rygaard, Mikael Persbrandt, Trine Dyrholm, Ulrich Thomsen, Martin Buch, Toke Lars Bjarke, Annette Stᴓvelbæk, Simon Maagaard Holm.

Recém-chegado na escola, Christian (Nielsen), que perdeu recentemente a mãe e possui uma relação tensa com o pai, Claus (Thomsen) busca a amizade de Elias (Rygaard), constantemente vítima das violências físicas e psíquicas que lhe são infligidas pela gangue liderada por um garoto mais velho, Sofus (Holm). Elias passa pelo processo de separação dos pais, sendo o pai um médico, Anton (Persbrandt) que atende em um país africano que vive em constante tensão por atos praticados de violência contra mulheres e crianças do sexo feminino.  Inconformado de ver Elias mais uma vez sendo atacado por Sofus, Christian o fere com o que tem a mão. Certo dia, Christian e o irmão mais novo de Elias testemunham o pai ser agredido sem revidar, por um mecânico que se sentira insultado por ele repreender o filho que brigava com o seu. O episódio não sai da cabeça de Christian, que planeja um atentado contra o carro do mecânico, e possui suas próprias ideias sobre se impor aos outros.

Se em sua primeira metade, ou pouco menos que isso,  consegue ser relativamente atraente, inclusive Bier demonstrando um senso de saber trabalhar com temáticas habitualmente mais afeitas ao universo masculino, em um estudo sobre a masculinidade (que outra realizadora, consegue resultados de longe mais efetivos, Valeska Grisebach, em Western), seu desenlace apenas corrobora os expedientes mais vis em sua desonestidade sentimental para com os personagens e os espectadores.  De fato, o atentado praticado se torna pretexto para uma mudança nos traços da personalidade aparentemente psicótica de Christian, valendo até mesmo uma explicação sofrível para a mesma, que nada fica a dever às do cinema clássico americano em seu esquematismo e crença na superação via trauma, tão admirada por nomes como Hitchcock (Quando Fala o Coração, Um Corpo Que Cai), assim como a previsível reconciliação dos pais de Elias. E o esquematismo na construção da personalidade dos garotos passa a crescentemente incomodar, transformando o que poderia ser um instinto de revide desproporcional em alguém de personalidade mediana, em traços de psicopatia de um sociopata egóico, que serviria como modelo para planejadores de massacres que se sentiam  feridos em seu âmago pelos maus tratos sofridos, ainda que por osmose de um amigo próximo (em um panorama que faz lembrar O Jovem Törless, ainda que aqui o amigo tome partido do outro, de forma bem mais convencionalmente moral). Aliás, essa moralidade proselitista que parece pairar sobre quase todas as personagens e situações transforma o filme de interessante promessa de ensaio sobre a masculinidade em um desfiar melodramático de situações que convergem para uma situação de equilíbrio ao final, com todos os personagens atuando dentro do que lhe era esperado socialmente, de forma quase tão bem resolvida e orgânica quanto o elenco em questão, que não possui culpa de estar a serviço de uma proposta que menos se aproxima da de Grisebach que de filmes como A Onda. Oscar de filme estrangeiro. DR/Det Dansk Filmistitut/Film Fyn/Film i Väst/Memfis Film/Nordisk Film & TV Fund/SVT/Swedish Film Institute/Trollhättan Film/Zentropa Ent./Zentropa Int./Zentropa Prod. para Trust Nordisk. 118 minutos.

 

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