Filme do Dia: 3 Faces (2018), Jafar Panahi
3 Faces (Se Rokh, Irã, 2018). Direção: Jafar Panahi. Rot. Original: Jafar
Panahi & Nader Saievar. Fotografia: Amin Jafari. Montagem: Mastaneh Mohajer
& Panah Panahini. Dir. de arte: Leila Naghdi Pari. Com: Behnaz Jafari,
Jafar Panahi, Marziyeh Rezaei, Maedeh Erteghaei, Narges Delaram.
Behnaz Jafari (Jafari), conhecida
atriz de tv e cinema iranianos, encontra-se inconsolável após receber um vídeo
de uma garota, Marziyeh (Rezaei), que aparentemente se suicida diante da câmera,
por não ter conseguido entrar em contato com ela e tampouco avançar na sua
carreira de atriz. Ela viaja à região onde a garota mora ou morava, com Jafar
Panahi (Panahi). Jafari abandonou o set da filmagem que realizava no último dia
para efetivar essa viagem, deixando a diretora e equipe bastante indignados.
Após circularem pela vila, encontram sua mãe (Delaram), que afirma que a filha
não volta paa a casa faz 3 dias. No local, vive igualmente uma atriz que teve
seus anos de glória, mas que depois de ter sido descoberto seu passado, vive
praticamente isolada, saindo apenas para realizar suas pinturas.
Panahi revisita várias estratégias que
puseram no mapa internacional o cinema iraniano das últimas décadas, dialogando
inclusive com seu cineasta mais renomado, Kiarostami, seja na composição
frontal de uma casa típica da província (como em Através das Oliveiras), seja na relação ambígua entre realidade e
ficção (com os atores representando a si próprios), algo que o próprio Panahi
já igualmente fora um dos mestres (com filmes como O Espelho), seja nos longos planos no interior de um carro a
procura de (como Gosto de Cereja ou Vida e Nada Mais), além da relação com
o suicídio do primeiro e, não menos importante, pela expressão dos elementos
populares a forjarem mentiras envolvendo a si próprios como forma de adentrar o
universo peculiar do cinema (Close-Up).
Assim como os planos abertos em que se observam personagens a andarem por entre
as paisagens aos encontros um de outro (como a cena final, evocativa de Através das Oliveiras uma vez mais).
Tudo parece ser mero pretexto para que se observe a interação entre citadinos e
interiorianos, inclusive com uso distinto de línguas (o azerbajês e o turco,
além do persa), costumes locais (como o de enterrar o prepúcio dos garotos
recém-circundidados em algum local que poderá ser vinculado ao futuro do mesmo)
e a misoginia e o papel da mulher na sociedade iraniana (abordado pelo cineasta
em vários filmes, como O Círculo) e
aqui representado por três atrizes de gerações e momentos distintos em relação
à profissão – uma praticamente ainda sequer possui experiência, outra se
encontra no auge de sua carreira e uma terceira (curiosamente observada apenas
ao longe) já aposentada e com bastante mágoas dos realizadores de sua época.
Duas delas vivenciando na pele a condição de párias sociais por conta de seu
passado e pretenso futuro. As referências políticas implícitas são bastante
reduzidas, por motivos óbvios (a determinado momento Jafari explica a um senhor
que Panahi não poder abandonar o país, enquanto o ator-ícone do mesmo, Behrouz
Vossoughi, veterano tipo
viril de filmes populares, a quem ele quer entregar o prepúcio do filho,
tampouco pode entrar no mesmo) nesse filme que observa tudo de uma perspectiva
eminentemente anti-sentimental como habitual. Inicia com o vídeo do suposto
suicídio. O quarto, e de longe mais convencional, dos filmes realizados por
Panahi após o governo iraniano tê-lo banido por vinte anos de realizar qualquer
produção, soa demasiado derivativo-tributário-nostálgico em razão inversa de
qualquer contundência maior estética ou política. Jafar Panahi Film Prod. 100
minutos.
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