Filme do Dia: Páginas da Loucura (1926), Teinosuki Kinugasa

 



Páginas da Loucura (Kurutta Ippêji, Japão, 1926). Direção: Teinosuki Kinugasa. Rot. Adaptado:Teinosuke Kinugasa, Yasunari Kawabata & Minuro Inuzuka, baseado no conto de Yasunari Kawabata. Fotografia: Kôhei Sugiyama. Dir. de arte: Chiyo Ozaki. Com: Masuo Inoue, Yoshie Nakagawa, Ayako Iijima, Hiroshi Nemoto, Misao Seki, Eiko Minami, Minoru Takase, Tetsu Tsuboi

Homem (Inoue) vai ser servente no manicômio onde foi encarcerada sua mulher (Nakagawa), com quem compartilhou uma vida feliz no passado. Penalizado com sua situação, tenta após um tempo livrá-la das grades do presídio, chegando a agredir o diretor do hospital (Seki).

Com muito esforço se consegue esboçar um mínimo enredo para esse filme, exemplar único (ao menos que sobreviveu ao tempo) no cinema japonês de então a dialogar abertamente com propostas das vanguardas européias contemporâneas ou, pelo menos, a se aproximar do estilo daquelas. Sendo assim, é a dimensão lírica aqui que prepondera. Mais importante do que contar uma história é a sua complexa e precoce representação imagética que, abdicando dos entretítulos “obrigatórios” de então, procura dar conta de processos subjetivos que levem em conta o passado/presente, fantasia/realidade, de um modo impossível de ser separado de forma didática. As trucagens ópticas aqui ganham uma dimensão expressiva tão atuante quanto na vanguarda francesa, mas outros recursos são mais discretamente utilizados, incluindo a câmera lenta. O tema da loucura e a relação de poder que envolve o “saber médico” sugerem uma aproximação com O Gabinete do Dr. Caligari (1919), de Wiene e, como naquele, é objeto de confrontação e mesmo luta física. É tido como o primeiro filme japonês a ter sido apresentado para platéias ocidentais. Mesmo que seu realizador tenha feito uma detalhada pesquisa prévia sobre a vida numa instituição para pacientes com problemas mentais, ela aqui não serviu evidentemente aos propósitos habituais de um naturalismo mimético da realidade. O filme pode ser comparado com Menilmontant não apenas pela recusa dos entretítulos como pela rara tentativa de conjugação entre elementos narrativos e práticas radicais de vanguarda, ainda que a pretensão narrativa demonstre ser bem menos acentuada ou resolvida aqui, tornando-o mais próximo das aventuras estéticas mais radicais.  As cenas de histeria coletiva que pontuam praticamente todo o filme são muito bem orquestradas, tendo como seu melhor exemplo a confusão coletiva gerada pelo servente. Dado como perdido, foi encontrado por seu realizador no início dos anos 70, quando ele fez a cópia sonorizada do filme que muito provavelmente serviu como matriz para esta cópia em questão.  Depois desse tour de force produzido com baixíssimo orçamento e pelo próprio realizador, Kinugasa jamains voltaria a ousar tanto. Kinugasa Prod./Naitonal Film Art/Shin Kankaku-há Eiga Renmei Prod. 59 minutos.

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