O Dicionário Biográfico de Cinema#39: Tom Hanks


Tom Hanks (Thomas J. Hanks). n. Concord, Califórnia, 1956

As pessoas gostam de Tom Hanks. Acham-no amigável, decente e não ameaçador. Desculpam-no pelo completo horror de Bonfire of the Vanities [A Fogueira das Vaidades] (90, Brian De Palma); toleram-no no consideravelmente vazio e irrisório Sleepless in Seattle [Sintonia de Amor] (93, Nora Ephrom). E isso explica porque foi escalado para dissimular e carregar o  tema "perigoso" de Philadelphia [Filadélfia] (93, Jonathan Demme). Por que não admitir que ele foi muito menos do que o requerido nos três filmes, e aparentemente muito respeitoso para se impor a materiais excessivamente cautelosos (ou deficientes)? Seu advogado em Philadelphia é um apanhado de gestos conceituais, envolto em maquiagem angustiante e desafiadoramente não gay. E não é culpa de Hanks que o filme busque coragem, convicções, ou alguma resolução sobre o que de fato se trata. Nem tampouco deixa de ser tocante. Mas carrega um sentimento automático de um cachorro em um filme sobre pessoas. Ele é um dado. Ele é a maquiagem. 

Hanks caiu fora de Sacramento, na Califórnia, para atuar - e ninguém pode contestar a decisão. Se ainda parece reticente enquanto ator, não se duvida de suas habilidades cômicas. Ele estreou na comédia de situações Bosom Buddies (80-82) e então passou ao cinema: He Knows You're Alone [Noivas em Perigo] (81, Armand Mastroianni); interpretando Dungeons and Dragons [A Caverna do Dragão] com força máxima para a TV em Mazes and Monsters [Labirinto de Emoções] (82, Steven H. Stern); Bachelor Party [A Última Festa de Solteiro] (84, Neal Israel); fazendo seu próprio salpico na água com a sereia Daryl Hannah em Splash: Uma Sereia em Minha Vida (84, Ron Howard); The Man with One Red Shoe [O Homem do Sapato Vermelho]; com sua segunda mulher, Rita Wilson, em Volunteers [Voluntários da Fuzarca] (85, Nicholas Meyer) ; Every Time We Say Goodbye [É Difícil Dizer Adues (86, Moshe Mizrahi); construindo uma casa com Shelley Long em The Money Pit [Um Dia a Casa Cai] (86, Richard Benjamin); Nothing in Common [Nada em Comum] (86, Garry Marshall); e Dragnet [Dragnet: Desafiando o Perigo] (87, Tom Mankiewicz).

Por essa altura, Hanks tinha sobrevivido a dez filmes sem valor do tipo que deveriam ser guardados para vôos lotados. Então, ao menos, teve uma chance real, aos vinte e oito anos, quando se encontrou em Big [Quero ser Grande] (88, Penny Marshall), pelo qual ganhou uma indicação a melhor ator por puro charme e habilidade. 

Mas ai daqueles que ficaram muito animados. Hanks se estabeleceu enquanto uma estrela maior, mas os projetos não melhoraram: Punchline [Palco de Ilusões] (88, David Seltzer); The 'Burbs [Meus Vizinhos são um Terror] (89, Joe Dante); Turner & Hooch [Uma Dupla Quase Perfeita] (89, Roger Spottiswoode); A Fogueira das Vaidades; Joe Versus the Volcano [Joe Contra o Vulcão]  (90, John Patrick Stanley); não creditado em Radio Flyer (92, Richard Donner); A League of their Own  [Uma Equipe Muito Especial] (93, Penny Marshall); Sintonia de Amor; Philadelphia , pelo qual ganhou o Oscar; e Forrest Gump [Forrest Gump: O Contador de Histórias] (94, Robert Zemeckis), pelo qual ganharia o Oscar novamente, enfileirados, com uma interpretação que nada fez para aguçar ou problematizar a benigna inanidade do filme. 

Agora, dez anos depois. Gosto de Tom Hanks. Encontrei-o e o achei inteligente, divertido, e interessado pelo mundo mais amplo. Mas, de verdade - para além das vozes over , como o xerife Woody em Toy Story (95, Jon Lasseter) e Toy Story 2 (99, Jon Lasseter) - que mudanças encarou enquanto ator? Ao contrário, tornou-se o Ator Americano, mas que alguém realmente envolvido com os personagens e as histórias  - apesar de Apollo 13 (95, Ron Howard), onde interpreta um homem sem graça para um T; Saving Private Ryan [O Resgate do Soldado Ryan] (98, Steven Spielberg), certamente o filme que lhe deu a sensação de letras garrafais descendo sobre si;  a rotina cômica de You've Got Mail [Mens@gem para Você] (98, Ephron); o humanismo vazio de The Green Mile [À Espera de um Milagre] (99, Frank Darabont); o abominável publicitário do FedEx (e eu também gosto do FedEx, mas não vou a eles para ser comovido, apenas para enviar algo) de Cast Away [Náufrago] (00, Zemeckis).

O que verdadeiramente ajuda a compreender a irrelevância desses filmes, a aura ao redor de Hanks a protegê-lo, é se observar que ele é mais do que nunca um produtor, uma figura que anda atrás de seus próprios filmes, como se estivessem num desfile para ele. Hanks se tornou essa pessoa - supervisionando  uma longa série de TV sobre viagens espaciais e então Band of Brothers Irmãos de Guerra], uma paródia de O Resgate do Soldado Ryan. O que estou dizendo é que ele se tornou sempre Tom Hanks, sem nos deixar entrar nessa persona. 

Dirigiu um filme, That Things You Do! [Wonders: O Sonho Não Acabou] (96), e foi uma estréia promissora, sem sequer revelar um caráter substancial. Foi o pai em Road to Perdition [Estrada para Perdição] (02, Sam Mendes) e o homem do FBI em Catch Me If You Can [Prenda-me se for Capaz]  (02, Spielberg).

Tirou uma folga, mas voltou com The Ladykillers [Matadores de Velhinhas] (04, Joel Coen e Ethan Coen), The Polar Express [O Expresso Polar] (04, Zemeckis) e The Terminal [O Terminal] (04, Spielberg).

Hanks foi muito tocante em O Terminal, mas nem o filme nem sua performance foram vencedores. O que parecia pedir Hanks na produção. Foi hábil, engraçado e auto-destrutivo em outro filme negligenciado, Charlie Wilson's War [Jogos do Poder] (07, Mike Nichols) e se entregou à loucura em The Da Vinci Code [O Código Da Vinci] (06, Ron Howard)  - uma ofensa a sua própria inteligência - e então Angels & Demons [Anjos e Demônios] (09, Howard).

Foi produtor-executivo em O Expresso Polar e depois produziu três grandes séries de televisão que apresentam a influência de Spielberg e Soldado Ryan e que afirmam a considerável identificação de Hanks com o mainstream americano - John Adams  (08), Big Love [Amor Imenso] e The Pacific [O Pacífico] (10). Também produziu Where the Wild Things Are [Onde Vivem os Monstros] (09, Spike Jonze), mas pela segunda vez foi culpado de inflacionar um livro infantil clássico. E então temos sua voz de cowboy na franchise Toy Story

Texto: Thomson, David. The Biographical Dictionary of Film. Londres: Knopf, 2010, pp. 4175-4184. 

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