Filme do Dia: Fogo no Mar (2016), Gianfranco Rosi


Fogo no Mar (Filme 2016) - Filmmelier: assistir a filmes online
Fogo no Mar (Fuocoammare, Itália/França, 2016). Direção: Gianfranco Rosi. Rot. Original: Gianfranco Rosi, a partir da ideia de Carla Cattani. Fotografia: Gianfranco Rosi. Montagem: Jacopo Quadri.
Entre o continente africano e a Sicília se encontra a ilha de Lampedusa, mais próxima do primeiro e, pelo mesmo motivo, ponto quase obrigatório de passagem para refugiados africanos que chegam em barcos improvisados, em condições muitas vezes precárias de saúde ou, inclusive, como cadáveres. Como em Sacro Gra, Rosi demonstra uma facilidade em desenvolver personagens, através dos quais consegue criar um perfil não muito distante do filme ficcional. Aqui, no entanto, corre paralelo ao desenvolvimento do cotidiano comezinho dessas personagens, sobretudo o garoto Samuele, de 12 anos, mas também sua avó e, em menor medida, pai, um radialista, um médico, o drama dos refugiados. Ao contrário do “filtro ficcional” com que os moradores da ilha são observados, aos africanos cabe uma intensificação maior da carga documental. São imagens de sua captura no mar, muitos em situação de forte desidratação, e até mesmo de um macabro barco repleto de cadáveres amontoados ou ainda sofrendo uma primeira triagem das autoridades italianas e jogando futebol em equipes criadas por nacionalidade. Se o formato observacional vale para todos, evitando-se a entrevista e tampouco a voz over, as condições em que esse se dá são extremamente assimétricas, reproduzindo as do plano social mais amplo e, talvez por isso mesmo, não se acompanha de perto nenhum personagem africano, se é que o realizador estava determinado a fazê-lo. De fato, as referências ao cotidiano habitual de mortos afogados ou de resgatados não se encontra na ordem do dia do núcleo de seus ilhéus, com parcas exceções – a avó de Samuele se refere a triste sina deles, o médico comenta o quão difícil tem sido esse trabalho no qual há uma lida constante com crianças mortas, amputações e situações extremas que nunca o tornam acostumado e insensível ao drama observado. Do próprio Samuele, no entanto, não se escuta basicamente comentários de qualquer tipo sobre os imigrantes. Suas obsessões estão bem longe, na necessidade de aprender as habilidades que pretensamente o tornarão um futuro pescador tal como o avô e o pai ou, de forma mais espontânea, suas incursões em torno de ninhos de aves a descobrir e atacar com seu estilingue. O título advém de uma fala da avó de Samuele que afirma que o marido dela, em tempos de guerra, as vezes presenciava o fogo no mar, provocado pelas naves em conflito, tornando-se título de uma canção que ela pede ao radialista que execute em seu programa. Urso de Ouro no Festival de Berlim. Stemal Ent./21 Uno Film/Cinecittà Luce/Rai Cinema/Les Film d’Ici/Arte France Cinéma. 108 minutos. 108 minutos.

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