Filme do Dia: Porto (1948), Ingmar Bergman


Porto - Filme 1948 - AdoroCinema
Porto (Hamnstad, Suécia, 1948). Direção: Ingmar Bergman. Rot. Adaptado: Ingmar Bergman, a partir do argumento e romance de Olle Länsberg. Fotografia: Gunnar Fischer. Música: Erland von Koch. Montagem: Oscar Rosander. Dir. de arte: Nils Svenwall. Com: Nine-Christine Jönsson, Bengt Eklund, Mimi Nelson, Berta Hall, Birgitta Valberg, Sif Ruud, Britta Billsten, Harry Ahlin.
O marinheiro Gösta (Eklund) decide fincar pés em terra firme. Consegue emprego no porto como estivador, sendo logo despedido. Envolve-se emocionalmente com Berit (Jönsson), garota que tentara o suicídio pouco antes de travar o primeiro contato com ele. Berit é uma jovem com passagens pelo reformatório, envolvimento com vários homens, temperamento tido como difícil pela mãe (Hall) e que possui como uma das amigas mais próximas, Gertrud (Nelson).  Quando Berit conta seu passado a Gösta, uma tensão se instaura entre o casal. Certo dia, Berit sai em socorro de Getrud, que fizera um aborto clandestino e não se sente bem.
Operário e descrição de trabalhos físicos não compõem muito o universo que será associado com o realizador, mesmo em seus primeiros filmes. Por mais que uma tentativa de suicídio seja a primeira cena de algum interesse dramático. E que seu herói logo demonstre suas diferenças para com seus companheiros de situação – ama ler, enquanto o outro, mais velho, afirma que trocou livros pela bebida.  Sua trilha sonora, ribombante e algo marcial, não parece acrescentar grande coisa às imagens descritivas das atividades pesadas realizadas no porto, envolvendo uma mescla de esforço humano e maquinário. Se as soluções dramáticas, e as caras e bocas que as acompanham, assim como o recurso preguiçoso ao uso do flashback de Berit contando sua acidentada trajetória tendem a ser triviais como a própria história, existe, como em outras obras de Bergman no período (notadamente Música na Noite do mesmo ano), a ousadia em relação ao corpo feminino, como a moça que se despe e deixa expostos os seios (algo que no cinema autoral europeu somente se tornará mais frequente nos idos dos anos 60). E também expressos em sua referência a amiga, Gertrud, que costuma dormir com o jardineiro do reformatório e, posteriormente, encontra-se envolvida em um aborto, todos temas ainda demasiado tabus para Hollywood. E, com relação ao aborto, a fala de Berit na Polícia é um tanto avançada para a época, afirmando que mulheres grã-finas teriam condições mais favoráveis de fazerem abortos com médicos especializados, ao contrário da sua amiga ou eventualmente ela própria.  Pouco estimulante é sua apresentação do espírito “disfuncional” de Berit enquanto espelho das relações de constante conflito e violência entre pai e mãe, observadas em flashback e referidas, de modo ainda mais didático, por sua mãe a Gösta. Não menos são os gestos arrebatadoramente românticos de Gösta se impor a Berit, bem típicos da épocas, mas utilizados aqui com relativa parcimônia e mais no contato inicial do casal. Dentre o pouco que o filme apresenta de verdadeiramente notável se encontra a paixão de Bergman pelo rosto humano, sobretudo o feminino, como os primeiríssimos planos nas faces da Berit de Jönsson ou da Gertrud de Nelson. Svensk Filmindustri. 97 minutos.

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