Filme do Dia: Cleópatra (2006), Júlio Bressane
Cleópatra (Brasil, 2006). Direção e Rot. Original: Júlio
Bressane. Fotografia: Walter Carvalho. Montagem: Rodrigo Lima. Dir. de arte:
Moa Batsow & Francesca Ballestra Di
Mottola. Com: Alessandra Negrini, Miguel Falabella, Bruno Garcia, Nildo
Parente, Taumaturgo Ferreira, Lúcio Mauro, Josi Antello, Heitor Martinez Mello.
Cleópatra (Negrini) chega a corte de
Júlio César (Falabella) com a fama de ser uma devoradora de livros e buscando forjar uma identidade egípcia avessa à decadência romana, débil cópia da
cultura grega segundo o próprio Júlio César. Uma paixão intensa entre ela e Júlio César finda com o assassinato do primeiro. Cleópatra se apaixona então
pelo guerreiro Marco Antônio (Garcia), porém ele a abandona. Decadente e
politicamente enfraquecida, Cleópatra se suicida.
Parece sintomático o fato de Bressane
escolher como tema o mesmo de uma das mais extravagantes e desastrosas
incursões no terreno dos épicos efetivadas por Hollywood, dirigida por
Mankiewicz em 1963. O filme de Bressane se encaminha em completa oposição a tal
modelo. Pode-se argumentar sobre a teatralidade que emana do início ao final,
porém tal teatralidade é ligeiramente contrabalançada pelo evidente senso de
composição do realizador, que nos brinda com planos inusitados e belos
enquadramentos. Por outro lado, deveras distante de qualquer pretensão em
termos de valores de produção tal e qual o filme de Mankiewicz, porém
guarnecido por uma direção de arte bem acabada, presente nas produções do
realizador mais próximas dessa. E, por fim, onde se via espetáculo, aqui emana
um evidente senso de distanciamento no qual as situações-chaves do enredo são
constantemente desdramatizadas seja pelas breves incursões em uma trilha sonora
de sambas clássicos, seja pela alusão a tropicalidade também nas samambaias que
ornamentam certos planos, seja ainda pela própria interpretação do elenco. É
evidente que Bressane não se esquiva do farsesco, como nas interpretações
propositalmente exageradas ou fakes,
de algum modo evocativas das estratégias de um Werner Schroeter. Dito isso, há
de se registrar a habitual auto-indulgência, obscurantismo (aqui em menor dose)
e forte dose de pretensão que acompanha Bressane há muito tempo, bem menos
nítida em sua obra inicial, sobretudo no genial Matou a Família e Foi ao Cinema. Grupo Novo de Cinema e TV para
Riofilme. 112 minutos.
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