Filme do Dia: Man from the Restaurant (1927), Yakov Protazanov
Man from the Restaurant (Chelovek iz Restorana, URSS, 1927).
Direção: Yakov Protazanov. Rot. Adaptado: Yakov Protazanov & Oleg Leonidov.
Fotografia: Anatoli Golovnya & Konstantin Vents. Dir. de arte: Sergei
Kozlovski. Com: Michael Chekhov, Vera Malinovskaya, Mikahil Klimov, Mikahil Narokov, Stepan
Kuznetsov, K. Alekseyeva, Ivan
Koval-Samborski.
Primeira Guerra
Mundial. Skorohodov (Chekhov), é o maître de um restaurante de luxo, frequentado pela
elite política e militar russa. Ele aguenta todas as pressões e eventuais
humilhações que o subserviente emprego oferece em nome de sua família. Porém,
seu filho é morto em combate. Sua mulher (Alekseyeva), deprimida ao extremo com
o ocorrido, também falece não muito depois, sobrando-lhe a bela e talentosa
violinista Natasha (Malinovskaya) que, quando passa a se apresentar com uma
orquestra, provoca furor entre os homens que frequentam o ambiente e sobretudo
ao dono do restaurante (Klimov), que tenta todas as possibilidades de
seduzi-la, sendo a mais radical delas o documento que o amado de Natasha,
Sokolin (Koval-Samborski), necessita para conseguir sua dispensa do
alistamento.
Navegando nas ondas do
melodrama a todo vapor, Protazanov lhe emoldura dentro dos cânones da ideologia
socialista, porém de forma bastante discreta e embora sua ação se dê antes da
Revolução, sua crítica a elite parva, glutona e depravada, chapinhando em seus
excessos, bem poderia caber para a dos tempos contemporâneos a essa produção,
do qual provavelmente tampouco era entusiasta. Nessa versão soviética do homem
comum, oprimido por sua condição social, em situação similar à do personagem do
alemão de A Última Gargalhada
(1924), tem-se uma percepção bem menos alienada do personagem e de seu lugar
nos mecanismos sociais, assim como as humilhações de longe mais brutais que
naquele. Fica-se igualmente menos próximo de reproduzir o ponto de vista do
personagem, como no filme de Murnau. Skorohodov negocia constantemente, e nem
sempre de forma feliz, com sua dignidade, em um emprego que um dia pode lhe
reservar a humilhação de catar cacos no chão dos pratos que ele próprio
derrubou, e terá que pagá-los e no outro lhe possibilita afanar uma cédula
valiosa esquecida por um exibicionista alucinado. Essa negociação terá como
limite a sua própria filha, reserva triplicada do que lhe sobrou de humanidade
após a morte do filho e da esposa; a narrativa sabiamente se encerrando com o
gesto de desforra desse perante o patrão, sem aquilatar o reverso provável de
sua demissão. Protazanov faz uso bastante consciente das convenções do cinema
hollywoodiano e não apenas como veículo para trabalhar questões ideológicas.
Essas se encontram presente, e pode-se afirmar que a construção do personagem
gordo e antipaticamente autoritário do dono do restaurante - guardadas as
devidas proporções estéticas, nada fica a dever a tipos similares de burgueses
elaborados por Eisenstein (em A Greve,
por exemplo) - que pensa que poderá
obter tudo com seu dinheiro, inclusive Natasha, mas nunca são a intenção
primordial de suas produções. Pelo contrário, tem-se a impressão que elas estão
lá para que o filme consiga recursos para ser produzido e igualmente passar
pela cada vez mais hostil censura. Todos os atores fazem uso demasiado
excessivo de suas máscaras faciais, mas nenhum deles de forma tão excessiva, ao
ponto do caricato ou da simples consciência de ser um personagem ficcional
quanto o vivido por Chekhov, ator que posteriormente faria carreira em
Hollywood, conseguindo algum reconhecimento (sobretudo com Quando Fala o Coração) embora ainda mais como professor de muitas
das estrelas do firmamento hollywoodiano. Mezhrabpom. 62 minutos.
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