The Film Handbook#210: Jerzy Skolimowski

Resultado de imagem para jerzy skolimowskiJerzy Skolimowski

Nascimento: 05/05/1938, Lodz, Lodzkie, Polônia
Carreira (como diretor): 1960-

Se Jerzy Skolimowski parece, em anos recentes, ter sucumbido a mesma falta de propósito que marca diversos dos heróis de seus filmes, permanece, no entanto, como um dos originais e revigorantes diretores que emergiram da Polônia no pós-guerra. Misturando uma visão basicamente realista de sociedade com uma engenhosidade surreal e anárquica, sua obra é inventivamente inquieta e insistentemente excêntrica.

Poeta, ator e ex-boxeador, Skolimowski co-escreveu com Wajda Os Inocentes Charmosos/Niewinni Czarodzieje e com Polanski Faca na Água/Noz w Wodzie, no qual uma ênfase entre o abismo geracional na Polônia do pós-guerra, antecipava um dos temas dominantes de sua própria obra. Seu primeiro longa, Rysopis, filmado durante os seus quatro anos na escola de cinema de Lodz, observava o próprio diretor interpretando seu alienado anti-herói, cujo vagar entediado durante as últimas horas antes de se unir ao Exército, revelam não somente a atitude irônica e cínica de Skolimowski em relação ao otimismo político prevalecente em seu país, mas também seu estilo de câmera ágil e fluido. Sua mais refinada sequencia, Walkover>1 (com Skolimowski revivendo o personagem central do filme anterior enquanto um boxeador amador buscando fugir de uma luta) foi ainda mais visualmente distintivo, compreendendo somente 29 longos, complexos e deslumbrantemente enérgicos planos. Em cada um deles o tênue enredo (estruturado enquanto uma errante e aparentemente sem sentido busca de identidade) explora as tensões entre rebelião e conformismo, tanto na sociedade como um todo, quanto no indivíduo, enquanto Bariera, mais conscientemente poético, explora o abismo entre romance e cinismo, e o desprezo de seu protagonista estudante por uma geração mais velha, absorvida por suas memórias da guerra, parcialmente modificado por seu encontro com uma garota. 

Realizado na Bélgica, Le Départ>2 foi um tratamento inteiramente mais frenético e divertido de um tema semelhante, seu herói cabeleireiro divide-se entre suas obsessões por corrida de carros (o enredo simples e ritmado lida com seus esforços de conseguir dinheiro para comprar um Porsche) e a mais madura e sexualmente realizada namorada. Ainda que, em última instância, raso, a narrativa frenética e a mobilidade da câmera proporcionam uma reflexão estilizada da mania de seu herói. De longa mais sombrio foi Hands Up!/Race do Góri, uma alegoria anti-stalinista, no qual poloneses de todos os tipos e gerações são presos em um vagão ferroviário que não leva a lugar nenhum, sendo censurado pelas autoridades polonesas, resultando na decisão de Skolimowski de continuar sua carreira no Ocidente. 

Após The Adventures of Gerard, uma paródia agitada e irregular do romance napoleônico de Conan Doyle, Skolimowski retornou ao tema de um angustiado e alienado despertar sexual de um ser marginal, com O Ato Final/Deep End>3, no qual um garoto tímido, auxiliar de uma piscina, apaixona-se por uma colega, sua obsessão findando, tragicamente, com a morte da garota. Apesar de datado, o filme ainda impressiona com suas inesperadas guinadas de enredo, sua vívida galeria de excêntricos, e seu imaginativo uso das decadentes locações londrinas. Rei, Rainha e Três Corações/King, Queen, Knave, no entanto, embora saudado por alguns como uma adaptação superior de Nabokov, foi uma comédia de humor negro bem produzida e emocionalmente oca sobre um triângulo sexual incestuoso. 

Adaptado de uma história de Robert Graves e dizendo respeito a outro triângulo sinistro (um casal e um misterioso visitante, possivelmente louco, que afirma poder matar com sua mágica voz), Estranho Poder de Matar/The Shout foi uma fantasia intrigante mas, no final das contas, implausível e pretensiosa. De longe mais satisfatório, e reminiscente do talento inicial de Skolimowski por descobrir o bizarro dentro do cotidiano foi Vivendo Cada Momento/Moonlighting>4, uma irônica parábola cômica inspirada pelo recente advento da lei marcial na Polônia. Aqui, quatro construtores poloneses, um dos quais falante de inglês e conhecedor da crise na terra natal, enredam-se em uma absurda subversão das relações de trabalho normais, enquanto decoram o bangalô do patrão deles (nunca visto), em Londres. A inteligência afiada de Skolimowski reside não somente na forma como permite  uma complexa teia de motivos conflitantes para explicar o laconismo do capataz sobre notícias de Varsóvia para seus compatriotas, mas igualmente na deliciosa observação de ingleses hostis e poloneses incapazes de compreender. Aliás, O Sucesso é a Melhor Vingança/Sucess Is the Best Revenge foi uma completamente desarticulada tentativa de retrabalhar um tema semelhante, enquanto Ataque em Alto-Mar/The Lightship (no qual psicóticos encapuzados dominam um barco capitaneado por um pacifista) foi um thriller tenso e carismaticamente interpretado, mas surpreendentemente convencional. 

Se a obra de Skolimoswki é, em sua maior parte, visualmente excitante, frequentemente sofre, não obstante, com a ausência de profundidade emocional. Sua inteligência cética é ágil, mas errática, embora seu senso de humor, bizarro e negro, seja mais efetivamente desenvolvido quando interpreta a sociedade real e contemporânea, mais que um mundo reconhecível sobretudo enquanto produto das convenções cinematográficas ou literárias.


Cronologia
Junto com Polanski, Skolimowski foi o mais destacado dos jovens diretores que seguiram Wajda e Andrzej Munk. Barrier e Le Départ admitiram a influência de Godard; comparações com Antonioni e o Forman de início de carreira também podem ser úteis.

Leituras Futuras
Second Wave (Londres, 1970), de (org.) Ian Cameron

Destaques
1. Walkover, Polônia, 1965, c/Skolimowski, Alexandra Zawieruszanka

2. Le Départ, Bélgica, 1967 c/Jean-Pierre Léaud, Catherine Duport, Paul Roland

3. O Ato Final, Reino Unido/Al. Ocidental, 1970 c/John Moulder-Brown, Jane Asher, Diana Dors

4. Vivendo Cada Momento, Reino Unido, 1981 c/Jeromy Irons, Eugene Lipinski, Jiri Stanislav

Texto: Andrew, Geoff. The Film Handbook, Londres: Longman, 1989, pp. 270-2. 

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